Acusado de matar Marielle admite ligações pessoais com Bolsonaro

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Publicado Sexta, 04 de Março de 2022 às 13:38, por: CdB

Embora negue ser o autor do crime contra a parlamentar carioca, apenas o fato de falar aos jornalistas tem sido avaliado por analistas políticos ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil como um recado direto aos seus antigos aliados, diante do abandono na prisão e a proximidade do julgamento.

Por Redação - do Rio de Janeiro
Ex-policial militar e vizinho do presidente Jair Bolsonaro (PL) em um condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste da Cidade, o presidiário Ronnie Lessa, acusado de ser o assassino da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 2018, admitiu pela primeira vez o seu relacionamento com o mandatário neofascista.
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Ronnie Lessa está preso desde março de 2019 e irá a júri popular, junto com Élcio Queiroz, pelos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes
Envolvido também no contrabando de armas de assalto, proibidas pelas Forças Armadas, Lessa falou à revista semanal de ultradireita Veja, que circula neste fim de semana, sobre sua proximidade à família do presidente, desde 2009. Embora negue ser o autor do crime contra a parlamentar carioca, apenas o fato de falar aos jornalistas tem sido avaliado por analistas políticos ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil como um recado direto aos seus antigos aliados, diante do abandono na prisão e a proximidade do julgamento que poderá sentenciá-lo a penas de mais de 20 anos. Ligado à milícia armada que domina extensas áreas territoriais na Zona Oeste do Rio, Lessa admite que recebeu benesses de Bolsonaro, após perder parte da perna esquerda na explosão de uma bomba, colocada em seu carro por inimigos. Na época, Jair Bolsonaro era deputado federal e conseguiu que o vizinho furasse a fila e fosse atendido prioritariamente, na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). — No final dessa história eu saio como mal-agradecido. Nunca fui apertar a mão dele — desconversou Lessa, cujo endereço agora é na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.

Fura-fila

A explicação de Lessa para justificar o privilégio obtido é a de que “Bolsonaro era patrono da ABBR”. — Quando soube o que aconteceu, interferiu. Ele gosta de ajudar a polícia porque é quem o botou no poder. Podia ser qualquer outro policial — disse Lessa. De acordo com o suspeito de ocupar uma alta posição na milícia, Lessa deixou a instituição cerca de duas semanas depois pelo fato da prótese oferecida ser “bem simplesinha” e do seguro que recebeu lhe permitir comprar uma melhor. Segundo a reportagem, a proximidade do clã Bolsonaro com a ABBR “é pública e notória: entre 2004 e 2018, Bolsonaro destinou ao menos R$ 4,6 milhões em emendas parlamentares para a instituição, sem contar a generosidade dos filhos”. Lessa negou aos repórteres que seja próximo do presidente Bolsonaro, apesar de ter morado ao lado da casa dele e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) no Condomínio Vivendas da Barra. — Se vi cinco vezes na vida, foi muito. Um dia cumprimenta, outro não, e mesmo assim só com a mãozinha. E nunca vi os filhos dele — conta o vizinho.

Sangue frio

Lessa aproveitou a entrevista para negar que tenha matado Marielle e atribui a execução a um plano arquitetado pelo ex-capitão Adriano da Nóbrega, chefe dos milicianos e assassinos de aluguel conhecido como Escritório do Crime. O oficial renegado foi morto pela Polícia Militar, durante uma operação na Bahia, em 2020. — Ele estava num patamar em que não entrava mais num carro para dar tiro em ninguém, mas tenho quase certeza de que o grupo dele fez — acusou. À época da morte de Nóbrega, o presidente e seu filho primogênito, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), chegaram a acusar a PM baiana de ter promovido “uma execução a sangue frio”, segundo declaração dos familiares do presidente. Lessa também respondia pelos assassinatos de dois traficantes na favela Parque Colúmbia, na Pavuna, Zona Norte do Rio, quando ainda estava na PM. Também eram réus, no processo, o subtenentes Guilherme Tell Mega e Floriano Jorge Evangelista Araújo — todos atualmente reformados. O caso foi arquivado.
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