Rio de Janeiro, 18 de Setembro de 2024

A Venezuela, o óleo e a água

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Sexta, 02 de Agosto de 2024 às 09:38, por: CdB

Divergências entre governo brasileiro e aliados sobre a Venezuela, com foco na autodeterminação dos povos, geopolítica global e autonomia partidária.

Por Luciano Siqueira – de Brasília

A complexa questão da Venezuela ensejou momentaneamente posturas distintas entre o governo brasileiro, pela palavra do próprio presidente da República, e partidos políticos que integram a coalizão governista, o PT e o PCdoB. 

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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro

O tema em si há que ser examinado tanto do ponto de vista do princípio da autodeterminação dos povos, que implica em não ingerência nos assuntos internos de determinado país; como sob o prisma geopolítico mundial.

É fato que o regime bolivariano tem sido alvo de severas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e por países europeus, razão direta de muitas dificuldades econômicas e sociais que enfrenta. 

A Venezuela dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo (alvo da cobiça norte-americana), juntamente com o Irã e a Rússia, e ainda padece de uma economia fundamentalmente dependente da exportação do produto.

E os EUA têm patrocinado diretamente a extrema direita venezuelana em sucessivas tentativas de golpe. 

O presente pleito presidencial foi antecedido pela divulgação de pesquisas distorcidas que anunciavam a provável (sic) derrota do presidente Nicolás Maduro, precisamente para criar um clima favorável a nova aventura golpista. 

Governo brasileiro

Nesse contexto, se ao governo brasileiro cabe certa cautela, inclusive pelo papel que o presidente Lula exerce no subcontinente sul-americano, diplomaticamente proativo, aos partidos políticos cumpre pronunciamento próprio. 

Isto sob gigantesca a pressão midiática, na base da deturpação dos fatos e da exaltação da execrável líder da extrema direita venezuelana, María Corina Machado.

O PT agiu corretamente ao reconhecer o resultado das eleições presidenciais, assim como o PCdoB.

Demais, o caso específico do Partido Comunista do Brasil implica na relação de amplitude e independência no seio da ampla coalizão governista.

Desde 2022, quando o PCdoB passou a integrar o governo no primeiro escalão, ocupando a chefia do Ministério do Esporte no primeiro governo Lula, a 9ª Conferência Nacional partidária estabeleceu uma conduta política “propositiva e ao mesmo tempo crítica”. 

Não se trata de se opor ao governo, obviamente, e sim de contribuir com opinião própria. 

Dito de maneira simplificada, o PCdoB integra as frentes democráticas e progressistas as mais amplas possíveis, trabalhando pela unidade e ao mesmo tempo preservando a sua própria fisionomia, feito o óleo na água, juntos, mas não diluídos entre si.

 

Luciano Siqueira, é Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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