Publicado Quinta, 14 de Julho de 2022 às 07:42, por: CdB
Ameaça do Movimento Cinco Estrelas, membro da coalizão governista, de se abster de moção de confiança pode provocar a queda do governo de unidade liderado por Mario Draghi.
Por Redação, com DW - de Roma
As tensões políticas na Itália ameaçam derrubar o governo de unidade liderado pelo premiê Mario Draghi nesta quinta-feira após a decisão do populista Movimento Cinco Estrelas (M5S), membro da coalizão, de se abster na votação da moção de confiança do Senado.
Premiê Mario Draghi
Giuseppe Conte, ex-chefe de governo e atual líder do M5S, anunciou na noite de quarta-feira que os senadores de seu partido não comparecerão ao voto de confiança, que está vinculado à aprovação de um pacote de medidas para ajudar os italianos a enfrentarem a crise econômica.
Tais moções de confiança em projetos de lei governamentais visam garantir a coesão dos partidos aliados. O posicionamento do M5S produziria uma crise na coalizão de governo, que perde assim a maioria para governar.
Conte vinha reclamando há semanas das prioridades do governo, exigindo um alívio financeiro mais generoso para famílias e empresas atingidas pelos altos custos de energia, e o financiamento de um salário mensal garantido para quem não consegue encontrar trabalho.
Draghi tentou responder, mas deixou claro esta semana que não agiria sob ultimatos. Por outro lado, o primeiro-ministro antecipou em várias ocasiões que sem o apoio do M5S o seu mandato terminará, apesar de os populistas, vencedores das eleições de 2018 com 32% dos votos, estarem em momento de plena desordem e muitos de seus parlamentares terem migrado para outras formações.
Ameaça de eleições antecipadas
Uma queda do governo provocaria eleições antecipadas, e os próximos meses vão ser complicados devido ao aumento da inflação e às reformas pendentes exigidas pelo pacote de recuperação pós-pandemia financiado pela União Europeia, com cerca de 200 bilhões de euros.
A antecipação do pleito para o segundo semestre seria altamente incomum na Itália por ser esse o período em que o governo tradicionalmente elabora seu orçamento, que deve ser aprovado até o fim do ano.
Draghi, economista de prestígio e ex-presidente do Banco Central Europeu, foi convidado em fevereiro de 2021 pelo presidente italiano, Sergio Mattarella, para liderar uma coalizão heterogênea que reúne quase todos os partidos representados no Parlamento. A única exceção é o partido de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI), que permaneceu na oposição e é amplo favorito nas pesquisas.
Sistema parlamentar complexo
É provável que Draghi, que teve que enfrentar a pandemia de covid-19 e a crise gerada pela guerra russa contra a Ucrânia com todas as suas consequências políticas e econômicas, tenha que denunciar a grave situação ao presidente Mattarella e acabar entregando sua renúncia.
Como o sistema parlamentar que governa a Itália é complexo, não está excluído que ele obtenha um novo mandato e possa governar com outra maioria.
O presidente Mattarella poderia tentar persuadir Draghi a permanecer e convocar um novo voto formal de confiança nos próximos dias. O chefe de Estado também pode tentar nomear um novo líder interino para conduzir a Itália às eleições de 2023.