Programa: Inhotim inaugura exposição com obras de Abdias Nascimento

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Publicado Domingo, 18 de Junho de 2023 às 16:52, por: CdB

“É nos pontos riscados e cantados que nasce minha arte. Aí está a base de tudo. Nas encruzilhadas, nessa coisa que vai e vem, as contradições da vida ganham sentido, e o nosso retrato vai ganhando forma”, definiu Abdias Nascimento.


Por Redação - de Brumadinho, MG

O museu a céu aberto em Inhotim, na Grande Belo Horizonte, promove a exposição do intelectual de múltiplos talentos, Abdias Nascimento, com visitas programadas a partir desta semana, em uma programação pensada para os turistas que visitam a capital mineira. Nascimento havia feito suas primeiras experiências nas artes plásticas meses antes de embarcar para os Estados Unidos, em 1968, para ampliar as trocas entre os movimentos negros brasileiro e norte-americano. O contexto era de resistência contra a ditadura militar aqui, e de luta pelos direitos civis lá, com movimentos como os Panteras Negras em ebulição.

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As obras de Abdias Nascimento estão expostas no maior museu a céu aberto do mundo


Com o decreto do Ato Institucional nº 5 ,em dezembro daquele ano, Abdias foi forçado a permanecer em exílio, e, a partir daí, mergulhar na pintura como mais uma frente de resgate, exaltação e intercâmbio de tudo o que expressa a ancestralidade africana, partindo da espiritualidade para uma proposta filosófica completa, com um entendimento negro e afrodiaspórico sobre estar no mundo.

“É nos pontos riscados e cantados que nasce minha arte. Aí está a base de tudo. Nas encruzilhadas, nessa coisa que vai e vem, as contradições da vida ganham sentido, e o nosso retrato vai ganhando forma”, definiu Abdias, que se descobriu artista plástico aos 54 anos, na busca por uma linguagem alternativa ao inglês que intermediasse suas trocas com intelectuais e ativistas dos Estados Unidos, Caribe e África, nos 13 anos em que permaneceu exilado.

Acervos


Esta é a história é contada por telas e documentos do Museu de Arte Negra, expostos em Inhotim na mostra Terceiro Ato: Sortilégio. Localizado em Brumadinho, a 36,3 km da capital mineira, o Instituto Inhotim é a sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior museu a céu aberto do mundo.

Quando se iniciou nas artes plásticas, Abdias já era um dos mais importantes intelectuais de seu tempo, além de articulador da mobilização negra e dramaturgo, ator e jornalista de produção extensa, tendo fundado o Teatro Experimental do Negro (1944), o jornal Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro (1948) e o Museu de Arte Negra (1950). Pelo Teatro Experimental do Negro passaram atores e atrizes consagrados, como Ruth de Souza, Léa Garcia e Aguinaldo Camargo.

“Julgávamos que a viagem de Abdias Nascimento aos Estados Unidos fosse oportunidade para ampliar o sucesso do homem de teatro e do escritor sempre brilhante. Que igualmente fosse oportunidade para dilatação de sua campanha em favor do homem de raça negra. Tudo isso está se sucedendo naturalmente. Nenhum espanto. Surpresa mesmo é Abdias artista plástico”, escreveu em O Jornal o crítico de arte Quirino Campofiorito, em 1969, quando tomou conhecimento de que o intelectual havia estreado uma exposição no Harlem, em Nova York.

Linearidade


O exílio de Abdias Nascimento também incluiu um período na Nigéria, onde lecionou na Universidade Obafemi Awolowo entre 1976 e 1977. Deri Andrade diz que, assim como as lutas por direitos civis nos Estados Unidos e a religiosidade no Brasil, Caribe e América Central, a encruzilhada que o levou ao continente africano modifica seu trabalho com toda uma nova gramática agregada pelos símbolos adinkra, que representam provérbios e sintetizam ideias. Abdias teve contato com tais símbolos em sua passagem por Gana, e a presença deles em sua produção artística se mantém daí em diante. Além dos quadros que usam a simbologia, a exposição traz também documentos que explicam seu significado.

Abdias Nascimento era neto de africanos escravizados e paulista de Franca, onde nasceu em 1914. Ao longo da vida, foi agraciado por títulos de doutor honoris causa no Brasil e no exterior, recebeu prêmios de instâncias nacionais e internacionais, entre eles a mais alta honraria outorgada pelo Governo do Brasil, a Ordem do Rio Branco no grau de comendador. O intelectual morreu em 2011.

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