A equipe econômica do governo anunciou na quarta-feira um plano para privatização da Petrobras até o final do mandato de Bolsonaro em 2022. O presidente da extrema direita, comprometido com a agenda privatista, não descartou a possibilidade ventilada pelo Ministério da Economia. Disse que vai avaliar a proposta que será apresentada pelo ministro Paulo Guedes, e verificar o "custo-benefício" da medida.
Por Umberto Martins - de São Paulo
"A ideia é abrir o Brasil", disse em conversa com jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, pela manhã. "O governo estuda tudo, nós temos que nos preparar para qualquer coisa", disse.Cobiça internacional
De acordo com informações da Petrobras, a produção de petróleo e gás em julho foi de 2,76 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia. Apenas no pré-sal, a produção (recorde) chegou a 2,1 milhões/dia. Dirigentes da estatal estimam que em pouco tempo a extração de petróleo em águas profundas representará 88% de todos os polos de exploração e produção. Hoje já significa 55%. O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Decio Oddone, observou recentemente que a produção no pré-sal aumentou 729% entre 2012 e 2018. Um crescimento geométrico, que ainda está longe do esgotamento. O Brasil possui uma imensa reserva de ouro negro que despertou a cobiça das multinacionais do petróleo. Não foi por mera coincidência que logo após o anúncio da descoberta do pré-sal no governo Lula, os EUA anunciaram a reativação da 4ª Frota da Marinha para patrulhar os mares da América do Sul. Concomitantemente, empenharam-se na conspiração para o golpe de 2016 que, travestido de impeachment, resultou na derrubada do governo Dilma e ascensão de Michel Temer ao Palácio do Planalto. O emedebista, que chegou a desempenhar o infame papel de informante de Washington, mudou a política externa brasileira, priorizando a aliança com os EUA, e iniciou a obra de abertura do pré-sal e privatização fatiada da Petrobras. Entrou para a história como o presidente recordista em impopularidade e com merecida fama de corrupto.Crime de lesa-pátria
A agenda entreguista foi radicalizada por Jair Bolsonaro. A eleição do líder da extrema direita, em 2018, precedida da condenação sem provas e prisão política do ex-presidente Lula no âmbito da controvertida Operação Lava Jato, foi o coroamento do golpe de Estado. Bolsonaro bateu continências à bandeira dos EUA e, em Washington, vomitou impropérios contra a China e jurou lealdade ao bilionário Donald Trump, traduzindo o mais autêntico complexo de vira-lata detectado no século passado pelo escritor Nelson Rodrigues. Não se pode dizer que o líder da extrema direita brasileira não esteja cumprindo o juramento. Se o projeto entreguista for levado a cabo, o prejuízo será grande para o Brasil. Os lucros do pré-sal que, no marco regulatório definido nos governos Lula e Dilma (depois alterado por iniciativa de José Serra no Senado), alimentavam a expectativa de redenção da educação e saúde públicas, correm agora o risco de serem surrupiados pelo capital estrangeiro. Desenha-se no horizonte político mais um crime de lesa pátria, que só não será consumado se a nação se indignar e reagir à altura, resgatando e atualizando a memorável campanha “O petróleo é nosso!”.
Umberto Martins, é jornalista e autor do livro O golpe do capital contra o trabalho.
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