Patinetes elétricas se transformam em febre perigosa a pilotos e pedestres

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Publicado Sábado, 06 de Abril de 2019 às 12:48, por: CdB

Manter-se na vertical, no entanto, exige que o aventureiro tenha andado em algo semelhante, ao longo da vida, como naquela tábua equipada com um guidom em madeira de caixote e rodas de rolimã, por exemplo.

 
Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro
  O serviço é bem estruturado pela inovadora Grin, que oferece o compartilhamento de patinetes elétricas em parceria com o aplicativo de entregas Rappi. O equipamento, disponível nas cidades onde o serviço de delivery atua, como São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre e outras capitais pela América Latina, é de fácil acesso. O custo, porém, não é convidativo. Para desbloquear uma patinete, custa R$ 3 nos primeiros três minutos de uso e mais R$ 0,50 por minuto adicional.
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Em um piso plano, em condições perfeitas, a patinete é uma diversão; enquanto que, nas ruas, torna-se um risco desnecessário
Manter-se na vertical, no entanto, exige que o aventureiro tenha andado em algo semelhante, ao longo da vida, como naquela tábua equipada com um guidom em madeira de caixote e rodas de rolimã, por exemplo. A prática em um skate também ajuda muito. Superado esse obstáculo inicial, mas decisivo para um transporte com chance mínima de permanecer de pé sobre o veículo, bastam duas passadas e o motor elétrico funciona, a uma velocidade emocionante. Seria diversão garantida pilotar o bólido em um piso plano e liso. Exatamente o que não existe no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio, onde testamos a patinete. Uma vez ativada, na ciclovia da rua General Polidoro, os primeiros 50 metros foram semelhante a deslizar por uma pista de alto desempenho. E terminou aí. Ao dobrar à direita, para a Rua 19 de Fevereiro, é que se tem ideia do que é aventura e emoção, a cada metro percorrido.

Pedestres

Buracos significativos, capazes de engolir a pequena roda da patinete e lançar o condutor alguns metros adiante, de cara no chão, numa árvore ou na bolsa de compras de um transeunte; estes obstáculos demonstram o risco inicial do meio de transporte alternativo que virou uma febre nas ruas do bairro. Pilotar algo desse tipo requer mais do que prática e habilidade. Uma dose cavalar de sorte ajuda muito. Ao chegar na Rua Mena Barreto é que a situação se mostrou mais desafiadora. Na pista de rolamento dos automóveis, enfrentar a fúria dos motoristas de táxis e aplicativos é pedir para encarar um bom período no pronto-socorro mais próximo. Resta, então, a calçada. No horário da tarde, quando as crianças saem dos vários colégios na região, porém, andar sobre algo que, se estiver parado, cai; montado nele é se arriscar a um acidente ainda mais grave, tanto para o piloto de patinete quanto para os pedestres. Mais prudente é descer e sair empurrando aquele trambolho por alguns metros, até chegar a um trecho mais adequado. Ao trafegar junto aos pedestres, no entanto, fica evidente o risco de uma trombada, a qualquer minuto, com qualquer um. A melhor solução, no caso, é abandonar o veículo e seguir à pé o resto do caminho, com o cuidado de deixar aquilo em um ponto em que não atrapalhe o fluxo de pessoas. Pronto. Quem se arriscar pela primeira vez, se tiver juízo, não tentará novamente. Como modelo de negócios, a nova modalidade de transporte para curtas distâncias também não parece muito saudável. A primeira viagem é grátis, logo, o desgaste dos veículos tende a ser muito grande e o rendimento, praticamente zero, posto que se usa uma vez, nunca mais realizará algo semelhante. Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.
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