Paquistão alerta aos EUA: "Vocês vão perder um aliado"
Por Qasim Nauman e Missy Ryan
ISLAMABAD/WASHINGTON (Reuters) - O Paquistão alertou os EUA de que sua aliança pode ser rompida se Washington continuar acusando Islamabad de fazer jogo duplo na guerra contra os militantes islâmicos, em declarações que agravam a crise nas relações entre os dois países.
A chanceler paquistanesa, Hina Rabbani Khar, reagia a comentários feitos pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, almirante Mike Mullen, segundo quem a principal agência paquistanesa de espionagem tem estreitas relações com a rede militante Haqqani, a facção mais violenta e ativa do Taliban no Afeganistão.
Foi a acusação mais séria lançada pelos EUA contra o Paquistão, única potência nuclear islâmica, em dez anos de aliança na "guerra ao terrorismo".
"Vocês vão perder um aliado", disse Khao numa entrevista à Geo TV, em Nova York, transmitida na sexta-feira.
"Vocês não podem se dar ao luxo de alienar o Paquistão, não podem se dar ao luxo de alienar o povo paquistanês. Se escolherem fazer isso (...), o custo será deles (EUA) próprios."
A Casa Branca reiterou na sexta-feira seu apelo para que o Paquistão rompa relações com a rede Haqqani e elimine seus santuários na fronteira com o Afeganistão.
"É crucial que o governo do Paquistão rompa quaisquer relações que tenha, e tome ações fortes e imediatas contra essa rede, para que ela não seja mais uma ameaça aos Estados Unidos e ao povo do Paquistão, porque essa rede é uma ameaça a ambos", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Em depoimento ao Senado na quinta-feira, Mullen acusou a inteligência militar paquistanesa de colaborar com um ataque de militantes da rede Haqqani contra a embaixada dos EUA em Cabul, na semana passada.
A acusação ocorre num momento de crescente exasperação de Washington, enquanto o governo Obama enfrenta dificuldades para reprimir a militância no Paquistão e encerrar a prolongada guerra no Afeganistão.
O chefe do Estado-Maior paquistanês, general Ashfaq Parvez Kayani, qualificou as declarações de Mullen com "muito infelizes e não baseadas em fatos".
"Apontar o dedo para o Paquistão não é nem justo nem produtivo", disse ele em nota divulgada na sexta-feira pelos militares.
A ação militar unilateral dos EUA que levou à morte de Osama bin Laden no território paquistanês, em maio, já havia abalado as relações entre os dois países. Elas estavam começando a se recuperar quando aconteceu o ataque em Cabul. Ambos os lados agora adotaram uma retórica excepcionalmente agressiva.
No Congresso dos EUA, cresce rapidamente a pressão para restringir ou condicionar a ajuda ao Paquistão.
Mas um rompimento total entre EUA e Paquistão - países eventualmente amigos, e muitas vezes adversários - parece improvável, no mínimo porque Washington precisa usar o território paquistanês para abastecer suas forças no Afeganistão, e como base para seus aviões militares não-tripulados.
O Paquistão, por sua vez, recebe ajuda militar e econômica dos EUA, e vê a aliança como garantia de estabilidade nas suas relações com a vizinha e rival Índia, que também possui armas nucleares.
Reuters