A agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) está desconfiada de que o Brasil tenha comprado tecnologia nuclear de um cientista paquistanês que foi fornecedor do Irã, da Líbia e da Coréia do Norte, disse um especialista no assunto na quinta-feira. O Ministério da Ciência e Tecnologia brasileiro respondeu dizendo que a acusação "não tem coerência".
- Sei que eles (a ONU) estão especificamente preocupados com isso - disse Henry Sokolski, ex-funcionário do Pentágono e atual chefe do Centro de Educação sobre a Política de Não-Proliferação, um centro de estudos com sede em Washington.
- Eles estão especialmente preocupados com a possibilidade de a rede de Khan ser uma das fontes desse programa - afirmou Sokolski à Reuters pelo telefone - Não posso dizer como fiquei sabendo, mas eu sei.
Sokolski referia-se ao mercado negro nuclear comandado por Abdul Qadeer Khan, o pai do programa nuclear paquistanês, que vendeu tecnologia nuclear estratégica para o Irã, a Líbia e a Coréia do Norte.
Vários diplomatas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmaram a preocupação, falando com a Reuters sob a condição de permanecerem anônimos.
A porta-voz da AIEA, Melissa Fleming, disse que o alcance do mercado de Khan ainda está sendo investigado, mas acrescentou que a agência ainda não recebeu nenhuma informação concreta de que "outro país tenha comprado da rede".
A comprovação da veracidade das acusações seria embaraçosa para o Brasil, já que os outros "clientes" estão tentando obter armas atômicas, ou são suspeitos disso. Também significaria que a rede de Khan era maior do que se imaginava.
Desde o ano passado, a AIEA vem negociando com o Brasil o acesso à unidade de enriquecimento de urânio de Resende, no Rio de Janeiro.
O enriquecimento de urânio é um processo de purificação para utilização do material em usinas de eletricidade ou em armas. O Brasil, que possui a quarta maior reserva de urânio do mundo, sempre afirmou que suas operações de enriquecimento de urânio têm fins totalmente pacíficos.
Mas o governo vem negando acesso visual da AIEA às centrífugas da planta de Resende, alegando querer proteger a tecnologia nacional da espionagem industrial.
- Essa informação não tem coerência - disse Vera Canfran, porta-voz do Ministério da Ciência e Tecnologia - Nossa tecnologia é 100 por cento nacional...foi desenvolvida pela Marinha brasileira.
Em nota oficial, o ministério disse ainda que "repudia notícias que vêm sendo divulgadas e atribuídas a fontes anônimas e sem respaldo de qualquer instituição ou país...cabendo a essas fontes e à mídia que as abriga, o ônus da prova".
Integrantes da AIEA vêm ao Brasil no mês que vem, mas não se sabe se eles terão acesso à unidade de enriquecimento de urânio. O enriquecimento só pode começar com a aprovação da agência.
O Brasil combate as pressões dos EUA para inspeções mais abrangentes com medo de que as atividades comerciais de enriquecimento um dia sejam proibidas.