Nordestinos viram alvo dos candidatos em São Paulo

Os candidatos à Prefeitura de São Paulo nas eleições do próximo ano estão de olho nos votos dos nordestinos. De acordo com dados da Fundação Seade, 30% dos habitantes da cidade são migrantes. E a maioria deles da Região Nordeste: os baianos, em primeiro lugar, são 25%, seguidos pelos pernambucanos, que somam 15%, e pelos cearenses, que totalizam 8%.

Somados aos nascidos nos outros seis estados da Região, são 5 milhões os nordestinos que vivem e, principalmente, votam em São Paulo. A corrida pelos votos dos nordestinos foi estimulada pelas recentes gafes da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), em relação aos políticos nordestinos.

Há um mês, a prefeita acusou os senadores de trabalharem contra a capital paulista, ao atrasarem a aprovação de um empréstimo do BNDES para obras em transporte público.
Acabou provocando desconforto tamanho que só foi contornado depois que ela enviou uma carta de próprio punho, na qual procurou desfazer o que chamou de um mal-entendido.

Na carta, a prefeita lembrou que jamais poderia criticar a Região sendo ela a administradora 'da maior cidade nordestina do Brasil'. Apesar das desculpas, os adversários da prefeita na disputa pelo Palácio das Indústrias já sinalizam que vão usar o escorregão na campanha. Por isso, tudo indica que serão os votos dos nordestinos que farão a diferença nas próximas eleições de São Paulo.

Ciente dessa realidade, a prefeita já começou a trabalhar para evitar que recaia sobre ela a pecha de preconceituosa. Desde o episódio, Marta vem mantendo contatos com o coordenador da bancada nordestina na Câmara, deputado Roberto Pessoa (PL-CE), a fim estreitar os laços com os políticos da Região.

E foi por sugestão da bancada que a prefeita decidiu tornar o Centro de Tradições Nordestinas (CTN), localizado na capital paulista, um balcão de negócios para o Nordeste. O local é freqüentado por cerca de 15 mil nordestinos e nortistas nos finais de semana.

Tradicionalmente o local era usado somente para eventos culturais. A novidade é que serão instalados nove estandes, nos quais cada estado do Nordeste poderá mostrar seu artesanato, bem como a produção local para os empresários e turistas que visitam a cidade todos os dias. A inauguração acontecerá nas comemorações do aniversário de 450 anos da cidade.

Mas não é somente a prefeita Marta Suplicy quem está se movimentando para atrair os votos dos nordestinos. Candidato do PSDB, o deputado federal Walter Feldmann também já está em plena campanha.

Feldmann é freqüentador assíduo das reuniões da bancada do Nordeste na Câmara, que acontecem todas as quintas-feiras. De tão entrosado, ele já trouxe até convidados a participar das discussões da bancada, como o Dr José Antonio Franchini Ramires, diretor do Conselho Diretor do Incor.

Nas próximas semanas, o deputado pretende apresentar aos deputados nordestinos o presidente da Sabesp, Dalmo Nogueira. O objetivo, segundo ele, é colocar à disposição dos políticos da Região toda tecnologia utilizada em São Paulo no tratamento da água. Há ainda uma proposta de se promover discussões sobre medicina entre médicos da capital paulista e do Nordeste, via teleconferência.

Embora seja a maior cidade nordestina do País, até hoje São Paulo não conta com nenhum museu para contar a presença desses migrantes na cidade. Nem mesmo a do mais famoso deles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que saiu de Caetés, no Sertão de Pernambuco, como tantos outros, num caminhão pau-de-arara para tentar a sorte na capital paulista. A disputa pelas eleições do próximo ano pode acabar corrigindo essa lacuna.