O ministro mencionou, ainda, a possibilidade de o sistema ser baseado nos princípios de blockchain (tecnologia de dados que permite a transparência de informação compartilhada por uma cadeia interligada), devido aos custos baixos de operação e menor controle dos sistemas hegemônicos.
Por Redação, com Sputnik Brasil - de São Paulo
A Rússia vai propor aos parceiros do grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS, na sigla em inglês); além de outros 10 novos sócios recentes, a criação de um sistema global de pagamentos independente e 'despolitizado', segundo o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov.
A declaração ocorreu no encontro dos ministros das finanças do BRICS, encerrado nesta quinta-feira, em São Paulo, quando a Rússia assumiu oficialmente a presidência do grupo.
O ministro mencionou, ainda, a possibilidade de o sistema ser baseado nos princípios de blockchain (tecnologia de dados que permite a transparência de informação compartilhada por uma cadeia interligada), devido aos custos baixos de operação e menor controle dos sistemas hegemônicos.
Comentários
A agência russa de notícias Sputnik Brasil ouviu, ao longo desta quinta-feira, especialistas em economia e finanças sobre a proposta:
— É muito bem-vindo que o BRICS crie um sistema de pagamentos próprio. Já há projetos pilotos de sistemas de pagamentos em moedas digitais de bancos centrais sendo discutidos, sendo testados pela China, sobretudo — comentou o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Bruno Martarello De Conti.
Para a professora de mercado financeiro da Universidade Presbiteriana Mackenzie e advogada na área bancária Thaís Cíntia Cárnio, a real intenção nesse tipo de proposta é criar alternativas para fluxo dos capitais no mercado internacional, outros caminhos que não apenas via instituições financeiras:
— A transferência internacional via criptoativos já é utilizada, mas não institucionalizada por um governo [...] não tem uma autoridade monetária controlando, não é como o sistema SWIFT, que é utilizado pelas instituições financeiras para a troca de remessas internacionais de recursos, que também passa por instituições financeiras.
Realidade
De acordo com Carlos Henrique Dias, analista de mercado cripto na Mercurius Crypto, é inevitável que países que se opõem geopoliticamente ao domínio do Ocidente proponham novas instituições.
— O Ocidente acaba tendo uma representação nessas instituições globais que não é mais condizente com a realidade de hoje. O século XXI foi mostrando, com alguns eventos, essas contradições. A crise de 2008 nos Estados Unidos, colocando ali uma crítica ao sistema econômico (norte-)americano, industrialização da China, principalmente, a migração de cadeias de produção industrial para o Oriente — pontuou o analista.
Para o professor da Unicamp, a questão da assimetria provocada pelo sistema de pagamentos atual, como o SWIFT, o mais utilizado e dominado pelos países ocidentais, é a mais preocupante.
— Tem sido usado para sanções contra a Rússia, e podem ser usados contra qualquer outro país. Então, nesse sentido, é necessário que se crie um sistema de pagamentos que evite essa possibilidade de uso dos Estados Unidos da sua moeda, do dólar, e do sistema de pagamentos baseado no dólar como uma arma, é disso que se trata — resumiu De Conti.