Morre o dramaturgo Mauro Rasi

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Publicado Terça, 22 de Abril de 2003 às 13:46, por: CdB

O dramaturgo e escritor Mauro Rasi morreu nesta terça-feira em seu apartamento, no Leblon, na zona sul do Rio, aos 52 anos. Ele vinha se tratando há um ano de câncer no pulmão, mas ainda em 13 de fevereiro passado reestreou a comédia Batalha de Arroz num Ringue para Dois, que havia escrito nos anos 80 para Miguel Falabella e Cláudia Gimenez. Foi a última vez em que ele apareceu em público. Rasi, que era paulista de Bauru ("minha Stratford-upon-Avon", brincava, em alusão à terra natal de Shakespeare), foi um dos autores teatrais de maior sucesso nas duas últimas décadas. Começou na comédia ligeira, comentando o cotidiano político e social, que passou a ser conhecida como besteirol, mas foi tornando seu trabalho mais denso, em peças geralmente protagonizadas por estrelas da televisão, como Marieta Severo, Vera Holtz, Nathalia Timberg etc. Seu último texto, A Dama do Cerrado, estreou em 1996, com Suzana Vieira e Otávio Augusto. Nos últimos tempos, ele vinha tentando levantar a produção de um musical Ladies na Madrugada, que pretendia estrear este ano. Ele era solteiro e não deixou filhos. Rasi começou cedo no teatro. Aos 13 anos, montou Duelo do Caos Morto e foi incentivado a seguir carreira por Antônio Abujamra. Aos 16, quando estudava para ser concertista, encenou uma versão para Bauru de Liberdade, Liberdade, texto de Millôr Fernandes e Flávio Rangel. "Um verdadeiro plágio, que agradou ao meu público e foi levada ao palco na semana anterior à vinda de Paulo Autran com a versão original e autêntica", contou o dramaturgo. Muitos anos depois, Autran e Rasi viriam a trabalhar juntos em O Crime do dr. Alvarenga. O dramaturgo foi altamente influenciado pelas mulheres em sua obra teatral. Em uma entrevista 1997, disse que a arte e a cultura entraram na sua vida pela mão das mulheres de sua família. "Com 3, 4 anos, eu era levado ao cinema todo dia pela minha avó. Depois, as tias é que me levavam e brigavam com o porteiro para eu entrar em filmes proibidos. Era uma situação tipo Amarcord. O primeiro livro, A Vida de Mozart, ganhei de uma tia. Cinema, música, literatura, tudo me foi passado por mulheres. Três delas foram professoras. De francês, de literatura e de piano". Ele chegou a escrever uma peça para suas tias: As Tias de Mauro Rasi, que estreou em 1996 com Nair Bello, Carmem Verônica, Berta Loran e Dirce Migliaccio no elenco. Foi sucesso e o espetáculo quase ganhou a TV. A Rede Globo gravou programas piloto com o mesmo nome da peça, mas o lançamento foi cancelado. Mas para além da homenagem a suas tias, Mauro Rasi mantinha a mulher em lugar de destaque em todos momento de sua carreira. "Minha relação com as mulheres é turbulenta, complicada. Fui criado num matriarcado danado. Mas devo tudo a elas, da vida ao sucesso. Sempre, em qualquer momento crítico, uma mulher me estendeu a mão e me salvou. Todas as portas decisivas para mim foram abertas por mulheres", disse Rasi. Ele, contudo, dizia que a maior influência foi de sua mãe: "Ela era avassaladora, para o bem e para o mal. A gente custou a se entender, só nos acertamos no fim da vida dela. Mas os conflitos que surgiram, de certa forma, foram responsáveis por boa parte do que criei e crio". Ele trabalhou com várias das grandes atrizes brasileiras. Sobre cada uma delas tinha uma opinião, sempre positiva e às vezes referenciada no cinema. "Sônia Guedes é a maior atriz inglesa de São Bernardo; Andréa Beltrão é muito parecida comigo, eu em mulher; Marieta Severo foi uma relação cabeça, foi muito generosa comigo, que era um diretor estreante em A Estrela do Lar; Suzana Vieira é uma pimenta malagueta, uma Debbie Reynolds global; Vera Holtz, a pérola da minha coleção". Sobre Vera Holtz, ele fez referência à sua própria peça Pérola, em que Vera vivia a protagonista. Apesar de ter alcançado sucesso como dramaturgo (ganhou 11 prêmios de teatro), Mauro Rasi também atuava em outras frentes da cultura e do entr

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