Rio de Janeiro, 19 de Setembro de 2024

Macron lançou, na França, o poker eleitoral

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Segunda, 17 de Junho de 2024 às 19:14, por: Rui Martins

A extrema direita europeia cresceu, mas não conseguiu abocanhar, como se temia, o Parlamento Europeu. Essa foi a boa notícia, seguida do resultado negativo da diminuição do número dos deputados verdes ecologistas nas eleições europeias.

Por Rui Martins

 

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Imagem meramente ilustrativa

 

A França vive um clima de suspense com o risco de uma vitória da extrema direitaAs grandes surpresas ocorreram todas na França – a filha e a neta do criador da Frente Nacional de extrema direita, Jean Marie Le Pen, qualificado na época de nazifascista, reuniram 32% do total dos votos no partido Reunião Nacional e 5% no partido Reconquista, versões light da Frente Nacional, enquanto Emmanuel Macron ficou com apenas 15%.

Os socialistas de Raphael Glucksmann reuniram 14% dos votos e a extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon, despencou para 10% depois de ter conseguido 42%, há dois anos, embora tenha eleito a franco-palestina Rima Hassan para o Parlamento Europeu.

Diante da amarga derrota, o presidente francês Emmanuel Macron surpreendeu toda classe política, inclusive os eleitores franceses, decretando a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições, num prazo bem apertado, nos dias 30 de junho e 7 de julho.

Essa decisão, tomada antes mesmo da divulgação dos resultados finais, deixou atônitos os melhores conhecedores dos meandros da política francesa, pois, no caso da extrema direita conquistar a maioria parlamentar, Macron terá de governar com um primeiro-ministro da Reunião Nacional. E isso é o mais provável. Mesmo que Macron consiga o apoio do centro e direita democrática será difícil ultrapassar os 37% da extrema direita.

Mesmo porque o partido da extrema direita Reunião Nacional está ativo em busca de aliados e acordos. Assim, já negociava um acordo com o presidente do partido da direita tradicional Republicanos, justamente o partido de De Gaulle, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.

A divulgação dessa negociação isolada do presidente do partido dos Republicanos Eric Ciotti com a extrema direita de Marine Le Pen, revelada por ele mesmo numa entrevista à televisão francesa, provocou uma revolta na direção republicana que, numa reunião extraordinária destituiu seu presidente e o excluiu do grupo. Para os republicanos, imaginar uma união com a extrema direita constitui uma afronta, uma inominável vergonha e um desrespeito à memória dos antigos dirigentes do partido Republicanos.

Como o tempo é curto para celebrar uniões, a esquerda francesa, junto com os Verdes, divulgou ter encontrado um acordo de princípio, batizado de Nova Frente Popular, com um programa definido nestes últimos dias. Numa entrevista, o presidente Emmanuel Macron ironizou esse acordo de divergências, no qual a parte mais forte fica com o partido de Mélenchon, França Insubmissa, acusado de ter feito uma campanha antissemita para as Eleições Europeias.

Foi Mélenchon quem provocou o fim da Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) ao recusar considerar ter sido terrorista o ataque do Hamas do 7 de outubro. A comunidade judaica francesa chama de infame o acordo dos partidos de esquerda com o LFI, França Insubmissa de Mélenchon, considerado um partido de extrema esquerda islamizado e sem laicidade.

Até o dia 30, pode haver novos acordos e desacordos. Numa entrevista para o importante canal TF1, ficou claro que, no caso de vitória da Frente Popular, o primeiro-ministro seria Mélenchon. Isso poderá desestimular muito eleitor de esquerda.

As primeiras sondagens divulgadas (Harris Interactive-Toluna, Opinionway, Challenges, M6 E RTL) preveem uma vitória do partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, conduzido por Jordan Bardella, com 33% ou 34% dos votos. A esquerda unida 22%, e macronistas, 19%. A vitória da extrema direita com 235 a 265 deputados será relativa, não lhe dará maioria para governar.

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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