O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dizer nesta segunda-feira que herdou de Fernando Henrique Cardoso um país em situação difícil, durante entrevista coletiva realizada no encerramento da Cúpula da Governança Progressista, em Londres.
Questionado por um jornalista brasileiro se não era uma contradição ele participar de um encontro que teve o ex-presidente como visitante assíduo, Lula respondeu que "o presidente Fernando Henrique Cardoso não deixou a situação como deixou porque participou de fóruns como esse".
- Eu acho importante participar de um encontro como esse porque, às vezes, eu poderia passar o mandato todo sem encontrar essas pessoas - afirmou Lula.
Sobre a pergunta considerada "difícil", o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse que "os jornalistas brasileiros ajudam tão pouco quanto os britânicos" ao fazer perguntas deste tipo.
Democracia
Ao comentar os interesses difusos entre os países participantes da cúpula, Lula disse acreditar que a democracia é a "convivência na diversidade".
O presidente declarou também que há mais convergências do que divergências entre esses países e que futuros encontros poderiam incluir outras lideranças mundiais consideradas progressistas.
Num rápido discurso, antes da entrevista coletiva dos presidentes, Blair falou sobre os objetivos comuns dos chamados países progressistas. O primeiro-ministro afirmou que eles se baseiam na responsabilidade fiscal e disciplina monetária, mas também em políticas sociais e em promover mudanças econômicas globais.
Livre comércio
Blair disse que há um "forte compromisso" dos líderes com o livre comércio. O premiê britânico disse querer assegurar que, na rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Cancún, no México, em setembro, seja garantido o acesso dos países em desenvolvimento ao mercado dos países ricos.
Essa é uma das maiores reivindicações brasileiras na OMC, principalmente em relação à agricultura, já que os produtos brasileiros enfrentam grandes barreiras para serem exportados a países da Europa e América do Norte.
Blair também enfatizou que é preciso discutir financiamento para o desenvolvimento de países pobres, assim como ajuda humanitária. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro britânico afirmou que esses países devem se comprometer com o rigor fiscal e monetário e em combater a corrupção.
Iraque
Os jornalistas estrangeiros que participavam da coletiva aproveitaram para questionar a posição britânica na guerra do Iraque.
Tony Blair afirmou que os governantes deveriam se esforçar para oferecer "segurança para as pessoas que trabalham". O primeiro-ministro disse que, no Iraque, havia uma "brutal repressão" aos cidadãos e citou a descoberta de valas comuns como exemplo das atitudes do antigo regime iraquiano.
Blair afirmou ainda que em nenhum momento duvidou, e nem duvida agora, que o regime de Saddam Hussein era um risco à paz mundial. O primeiro-ministro afirmou que o mundo estava "convencido" disso, mas que apenas havia discordância sobre a maneira como agir.