Líbia: a tragédia, seus culpados e os sorrisos inocentes

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Publicado Quinta, 14 de Setembro de 2023 às 09:27, por: CdB

A mídia hegemônica também diz meias verdades, fala sobre a luta armada no país, sobre a corrupção das “autoridades” e refere-se, de passagem, à “revoltas populares” contra Muamar Kadafi em 2011.


Por Wevergton Brito – de Brasília


A Líbia vive uma tragédia humanitária de proporções cataclísmicas e o culpado por um desastre de tal dimensão não é apenas o ciclone Daniel, que atingiu o país no último domingo. São, até agora, mais de 5 mil mortos e 10 mil desaparecidos, números que aumentarão morbidamente nos próximos dias por total falta de estrutura estatal mínima.




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Sem aparelho estatal digno deste nome e dividida, a Líbia vive uma tragédia cujas causas vão muito além do ciclone

Fortes inundações atingiram drasticamente Grécia, Turquia e Bulgária, mas o número de mortos nestes países não passou de 30 pessoas. Acontece que a Líbia é uma país destruído. Duas represas romperam com as chuvas e não existe um comando central unificado capaz de tomar providências eficientes. Uma das “autoridades” Líbias, Osama Aly, ouvida pela CNN, admitiu o problema: “As condições meteorológicas não foram bem estudadas, nem os níveis da água do mar e da chuva, nem as velocidades do vento. Famílias que não poderiam estar no caminho da tempestade e nos vales não foram retiradas a tempo”. Um pesquisador líbio, citado pelo diário conservador carioca O Globo, diz uma meia verdade: “Dizemos ‘Mãe Natureza’, mas isso (a tragédia) é resultado da ação do homem, é a incompetência das elites líbias”.



Corrupção das “autoridades”


A mídia hegemônica também diz meias verdades, fala sobre a luta armada no país, sobre a corrupção das “autoridades” e refere-se, de passagem, à “revoltas populares” contra Muamar Kadafi em 2011. Ora, revoltas populares ocorreram várias em diversos países, por exemplo, nos EUA nos últimos anos, exigindo inclusive a intervenção da Guarda Nacional, toque de recolher e o país não foi destruído. A França igualmente, há poucos meses, enfrentou revoltas populares e prendeu milhares de manifestantes. O que não se diz é que o “democrata” Barack Obama, então presidente dos EUA, já havia decidido, em 2011, a destruição da Líbia, país membro da ONU que não ameaçava qualquer outra nação. A destruição foi executada pelas forças da OTAN, com apoio entusiástico do “Ocidente”, inclusive do Tribunal Penal Internacional (cujo papel, “ilude” a tantos incautos), que emitiu uma ordem de prisão contra o líder do país, Muamar Kadafi. Com as forças de segurança líbias destruídas pela OTAN, Kadafi, com 69 anos, foi capturado e assassinado para o delicioso sorriso da então Secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, outra “democrata”.


Enquanto Hilary exibia seu riso cândido, a morte de Kadafi foi pranteada em toda a África, que sempre contou com apoio líbio na luta anticolonial e contra o apartheid. Em Uganda, 30 mil pessoas compareceram numa celebração religiosa para demonstrar luto pela morte do ex-líder líbio. A Líbia, que até então tinha o maior Índice de Desenvolvimento Humano da África (maior até do que o do Brasil), regrediu a ponto de ver ressurgir fenômenos como a venda de seres humanos em mercados de escravos e hoje, com sua infraestrutura destruída, está dividida entre caudilhos militares, enquanto seu rico petróleo serve para tudo, menos para o povo líbio.


As estimativas apontam que as vítimas fatais do ciclone Daniel passarão de 20 mil pessoas, o que é aterrorizador se pensarmos em um país com 6 milhões de habitantes e em quantas crianças e idosos pereceram. Em tempo: Barack Obama recebeu, em 2009, o prêmio Nobel da Paz, prêmio que ostenta até hoje, com um sorriso inocente.


 

Wevergton Brito, é jornalista, vice-presidente nacional do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade ao Povos e Luta pela Paz).


As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil




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