Inquérito acentua indícios de ligação entre milícia e Bolsonaro

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Publicado Quinta, 27 de Julho de 2023 às 14:36, por: CdB

O ministro da Justiça, Flávio Dino, não se intimidou e rebateu, nesta manhã, às críticas de bolsonaristas; além de defender a independência da Polícia Federal (PF), que realiza as investigações. Os avanços coincidem com a saída de Bolsonaro da Presidência.


Por Redação, com RBA - de Brasília e Rio de Janeiro

O avanço nas investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em 2017, progrediu mais nos seis meses do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que em quatro anos de Jair Bolsonaro (PL). O fato deixa transparecer novas evidências da proximidade entre o ex-mandatário neofascista e as milícias armadas que proliferam no Estado do Rio de Janeiro, entre outros, a exemplo da proximidade entre ele e seus familiares ao chefe do 'Escritório do Crime', Capitão Adriano da Nóbrega – morto na Bahia –, que recebeu medalha das mãos do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

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Adriana Lotufo e o capitão Adriano, em um momento de descontração à beira mar, durante a fuga do miliciano que recebeu medalha de Bolsonaro


Assassino declarado de Marielle, o ex-policial militar Ronie Lessa, vizinho de Bolsonaro, foi transferido na noite passada para o presídio da Papuda, em Brasília. Simultaneamente, segundo o site de notícias Diário do Centro do Mundo (DCM), Bolsonaro ensaiou respostas sobre o caso em entrevistas para os canais de TV aberta Bandeirantes e SBT.

Nesta semana, um vídeo flagrou o jornalista Caiã Messina, da TV Bandeirantes, falando para Bolsonaro ficar tranquilo durante uma entrevista.

— Estamos entre amigos, todos aqui votaram em você — disse.

Críticas


No mesmo dia, o apresentador de um telejornal da emissora, Eduardo Oinegue, criticou o avanço das investigações a partir da delação premiada de Élcio Queiroz, envolvido na trama. Oinegue criticou o ministro da Justiça, Flávio Dino, por seu afinco nas investigações.

— Será que ele vai se cansar ou a gente vai se cansar dele? — falou Oinegue, no ar.

Dino, por sua vez, não se intimidou e rebateu, nesta manhã, as críticas; além de defender a independência da Polícia Federal (PF), que realiza as investigações. Os avanços coincidem com a saída de Bolsonaro da Presidência. O ex-presidente foi largamente acusado de aparelhar a PF em seu benefício. As críticas vieram inclusive de aliados, como do ex-ministro, ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil).

— Nós temos uma orientação clara. A Polícia Federal, que trabalha com independência técnica, tem todos os cuidados legais para garantir uma investigação bem feita, [que] indica que só há revelação do conteúdo de uma delação ou colaboração quando há a chamada prova de confirmação ou corroboração. A partir da narrativa de um dos autores, que é o senhor Élcio, há a produção de outras provas, que confirmam aquilo que ele está narrando, afirmando. A Polícia Federal e o Ministério Público trabalham com outros anexos à delação — afirmou Dino.

Quem também criticou o ataque de Oinegue contra a Justiça foi a jornalista Barbara Gância. “Oinegue, Oinegue… Quando é assim, faz como o (jornalista Ricardo) Boechat e o (apresentador José Luiz) Datena. Bata o pé no chão e diga que você se recusa a entrar no ar pra papagaiar uma merda desse quilate”, escreveu.

Envolvimento


As críticas contra as ações da PF que buscam trazer à luz as razões do assassinato se alastram entre bolsonaristas. As principais dão conta de que delação não seria prova. Adeptos da ‘Operação Lava Jato’ também criticaram. Eles tentam fazer uma falsa comparação com acusações sem provas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), explica as diferenças.

— Vamos deixar bem claras as diferenças. Informações de Élcio Franco corroboram as provas já existentes. Diferente da República de Curitiba que prendia e depois quando não encontrava provas forçava confissões. Caso Marielle não é convicção, nem um PowerPoint. Mais respeito — disse, após criticas do ex-procurador da Lava Jato e deputado cassado Deltan Dallagnol.

O jornalista Leandro Demori, que trabalhou para a agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil e atua, agora, na newsletter ’A Grande Guerra’, recorda que não há provas de envolvimento do clã Bolsonaro com o caso. Mas que há indícios que devem ser apurados. Até porque, até o momento, apenas figuras pequenas foram implicadas no caso. E, ainda à época dos fatos, o ex-ministro Raul Jungmann, durante o governo Michel Temer (MDB), disse abertamente que havia certeza de que “poderosos estavam envolvidos”.

— Ninguém sabe se a família Bolsonaro tem envolvimento no caso Marielle. O que existe, há anos, são indícios materiais evidentes para que a família Bolsonaro seja investigada no caso Marielle. Pra saber, tem que investigar — resume o jornalista.

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