Uma pesquisa encomendada pela BBC e divulgada nesta terça-feira mostrou que os brasileiros têm imagem mais negativa dos Estados Unidos do que da Venezuela. Quase três em cada cinco brasileiros (57%) entrevistados em oito cidades disseram ter uma visão negativa do país liderado pelo presidente George W. Bush, contra dois em cada cinco (41%) que disseram ter a mesma percepção do país liderado por Hugo Chávez.
A pesquisa é divulgada às vésperas da viagem de Bush para a região, no que analistas têm considerado ser uma jogada geopolítica para contrabalançar a influência de Chávez. A pesquisa indicou, no entanto, que Bush poderá contar com a receptividade de muitos outros brasileiros que têm uma visão positiva dos Estados Unidos.
Quase um terço (29%) dos entrevistados afirmou que os Estados Unidos desempenham um papel bom no mundo, contra um quinto (22%) que tiveram a mesma opinião sobre a Venezuela.
Imagem negativa
Ainda assim, a visão geral sobre os Estados Unidos é mais negativa que positiva, observou Doug Miller, presidente da GlobeScan, a empresa que coordenou o levantamento. Junto com o Chile (32%), o Brasil está entre os países latino-americanos pesquisados em que os Estados Unidos tiveram maior índice de avaliação positiva.
No vizinho México, os EUA são bem vistos por apenas 12% da população. Na Argentina, em contrapartida, duas em cada três pessoas (64%) vêem os Estados Unidos negativamente.
- É uma situação desafiadora para Washington. A reputação dos Estados Unidos se corroeu significativamente nos últimos dois anos, e chegou a um ponto em que será difícil para os americanos convencer as pessoas de que sua visão de mundo é boa - afirmou Douglas Miller.
As pessoas tendem a avaliar negativamente aqueles países que se destacam por usar ou buscar poder militar. Isto inclui Israel, os Estados Unidos, a Coréia do Norte e o Irã.
Nos 27 países pesquisados, a avaliação positiva dos EUA ficou em apenas 30%, enquanto a negativa bateu 51%. É um percentual apenas superado por Irã (54%) e Israel (56%).
- As pessoas tendem a avaliar negativamente aqueles países que se destacam por usar ou buscar poder militar. Isto inclui Israel e os Estados Unidos, que, recentemente, entraram em guerras, e a Coréia do Norte e o Irã, percebidos como tentando desenvolver armas nucleares - disse Steven Kull, diretor do Programa sobre Atitudes em Política Internacional (PIPA, sigla em inglês).
Mas este, segundo Doug Miller, não é o caso da Venezuela.
- A política externa da Venezuela é caracterizada pela confrontação com os Estados Unidos, mas uma confrontação no plano das palavras, como quando o presidente Chávez chama Bush de 'Mr. Danger'. A pesquisa indica que as pessoas preferem a confrontação no sentido de usar as palavras, não armas de fato - ele sustenta.
Nos 27 países, o mesmo percentual de entrevistados tem uma visão negativa e positiva da Venezuela: 27%.
- O tipo de política externa que tem dado bons resultados a Chávez é a de prover petróleo a países pobres e ajudar os vizinhos latino-americanos. É interessante descobrir que Chávez é o exemplo de um líder se levantando, resistindo (à hegemonia americana) e conquistando alguns seguidores - diz Miller.