Funai tenta impedir retomada da vigilância indígena no Vale do Javari

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Publicado Quarta, 26 de Outubro de 2022 às 09:44, por: CdB

O papel da Equipe de Vigilância da Univaja (EVU) é levantar dados sobre a movimentação das quadrilhas e abastecer as autoridades federais com informações qualificadas, viabilizando e otimizando operações de fiscalização dos órgãos estatais.

Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) anunciou nesta terça-feira (25) a retomada dos trabalhos da Equipe de Vigilância da Univaja (EVU). O novo coordenador da EVU é o geógrafo e indigenista Carlos Travassos, que atua há 15 anos com povos isolados e de recente contato.
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Integrante da Univaja durante buscas por Dom e Phillips no Vale do Javari
Travassos era amigo do último coordenador da EVU, o indigenista Bruno Pereira, assassinado em junho deste ano junto com o jornalista britânico Dom Phillips. Os crimes foram cometidos por integrantes de uma quadrilha especializada na pesca ilegal na Terra Indígena (TI) Vale do Javari. A retomada dos trabalhos da EVU foi anunciada em entrevista coletiva do procurador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo. Ele afirmou que Fundação Nacional do Índio (Funai) tem tentado impedir a entrada das equipes de monitoramento da Univaja no território indígena. – Identificamos três quadrilhas atuando nas proximidades de onde Bruno foi assassinado. Alguns deles são familiares dos algozes de Bruno e Dom. É exatamente esse tipo de delito que a Funai não quer que seja apresentado à sociedade – denunciou Marubo. Marubo destacou que o desmonte da Funai promovido pelo governo Bolsonaro estimula a atuação dos invasores. "Vamos continuar com as atividades querendo a Funai ou não. [A Terra Indígena] é a nossa casa. Vamos continuar entrando, e a Funai não vai poder nos impedir", declarou o procurador da Univaja. O Brasil de Fato aguarda resposta da Funai.

Quem é novo coordenador da EVU

Carlos Travassos, que assume a coordenação da EVU no lugar de Bruno Pereira, tem 42 anos e atuava até recentemente no Maranhão junto aos Guardiões da Floresta, grupo de fiscalização formado por indígenas que lutam contra a invasão de madeireiros na TI Araribóia, habitada por indígenas Guajajara e Awá-Guajá. – Para mim é uma honra assumir esse convite da Univaja – afirmou Travassos. "É um trabalho fundamental desenvolvido no momento em que as políticas públicas de proteção da Amazônia foram bloqueadas", acrescentou. Travassos testemunhou o avanço do crime ambiental no Vale do Javari entre 2007 e 2009, quando atuou como auxiliar da coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai no Vale do Javari. Depois, assumiu a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) do órgão indigenista. – O assassinato de Bruno foi claramente uma estratégia premeditada como forma de tentar desmobilizar essa agenda indígena de autodefesa do seu território, de denúncia das ações que estão ocorrendo – disse na entrevista coletiva.

Entenda o trabalho de vigilância da Univaja 

O papel da Equipe de Vigilância da Univaja (EVU) é levantar dados sobre a movimentação das quadrilhas e abastecer as autoridades federais com informações qualificadas, viabilizando e otimizando operações de fiscalização dos órgãos estatais. Composta majoritariamente por indígenas da região, a EVU foi criada em 2021 com objetivo de conter o aumento das invasões de quadrilhas armadas especializadas em saquear os recursos naturais dos indígenas, como o pirarucu e o tracajá (espécie de tartaruga).
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