Fumar mata também o planeta

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Publicado Quinta, 28 de Fevereiro de 2019 às 07:44, por: CdB

Os prejuízos do cigarro para a saúde dos fumantes são bem conhecidos, mas e os problemas ambientais? Bitucas são o item mais comum de plástico de uso único no mundo, e esse é apenas um aspecto.

Por Redação, com DW - de Londres

Todos sabem que fumar faz mal para a saúde, mas quantos conhecem os prejuízos que o tabaco traz para o planeta? A planta deixa um rastro de destruição do momento em que as sementes são plantadas até o momento em que suas folhas secas e picadas são queimadas pelos 1,1 bilhão de fumantes espalhados pelo mundo.
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Pontas de cigarro representam entre 30 e 40% de todos os itens coletados a cada ano em limpezas urbanas e costeiras
Pesquisadores do Imperial College London descobriram que a pegada de carbono anual dessa indústria é quase duas vezes maior do que a do País de Gales. – Se continuarmos a cultivar tabaco para atender à demanda teremos uma enorme degradação ambiental – diz Vinayak Prasad, líder do programa de controle de tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS). O plantio e a secagem das folhas, a chamada cura, são responsáveis por mais de 75% da pegada de carbono do tabaco. Os processos requerem muita terra, água e energia, além de pesticidas e fertilizantes que poluem rios próximos e águas subterrâneas e degradam o solo. Embora represente um mal menor em comparação a grandes vilões do desmatamento global, como palmeiras ou plantações de soja, o tabaco tem um grande impacto em nível local. "Por exemplo, na Tanzânia", diz Sonja von Eichborn, diretora da ONG Unfairtobacco. Nesse país, explica ela, o tabaco é responsável por até 6% do desmatamento anual, e a tendência é que esse percentual aumente. No Paquistão, as plantações já respondem por quase 27% do desmatamento anual, segundo dados da OMS. O transporte e fabricação de cigarros elevam ainda mais a equação tóxica. De acordo com a Unfairtobacco, a indústria utiliza 2,4 milhões de toneladas de papel e papelão por ano para produzir embalagens. Além disso, um outro problema são as bitucas de cigarro. Dos quase 6 trilhões de cigarros fumados a cada ano, 4,5 trilhões são descartados a céu aberto. Estatísticas do Programa das Nações Unidas para o meio ambiente (Pnuma) confirmam que elas são o resíduo mais comum de plástico de uso único. Feitos de um tipo de plástico não biodegradável, as pontas de cigarro podem levar uma década para se degradar, período em que o vento ou a chuva podem facilmente carregá-las para rios e oceanos, onde liberam produtos químicos tóxicos, como ácido acético e arsênico. Segundo o Parlamento Europeu, uma única ponta de cigarro tem potencial para poluir até mil litros de água com substâncias tóxicas que podem entrar na cadeia alimentar humana. E elas invariavelmente estão no topo da lista de lixo de limpezas urbanas e costeiras, representando entre 30% e 40% de todos os itens coletados a cada ano. As grandes quantidades de pontas de cigarros também permanecem nos esgotos. Enquanto algumas cidades ao redor do mundo multam os infratores – em Paris, a multa para quem joga bituca na rua custa 68 euros, e em Londres até 150 libras – Von Eichborn acredita que a indústria do tabaco deveria assumir uma responsabilidade maior sobre esse lixo. – Os governos devem garantir que as empresas de tabaco levem em conta integralmente o impacto ambiental causado por elas – disse. A União Europeia (UE) está pressionando por algo nesse sentido. Uma vez aprovada, a nova diretriz da UE sobre plásticos de uso único tornará os fabricantes de tabaco responsáveis pelo custo de coleta de bitucas de cigarro e pelo fornecimento de cinzeiros públicos. Alisdair Gray, diretor da Confederação de Fabricantes de Cigarros da Comunidade Europeia (CECCM), afirma que o grupo acompanha a evolução do processo e mantém o "compromisso de garantir uma redução significativa do impacto do lixo no meio ambiente". No entanto, ele se absteve de fazer outros comentários antes da aprovação oficial da diretriz e se recusou a responder o pedido da agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) por informações mais detalhadas sobre como exatamente a indústria planeja contribuir para a redução do desperdício.

Solução

Prasad, que acredita que a solução está na redução da demanda por tabaco por meio de medidas políticas e de uma legislação dura, diz que em breve a UE também exigirá que a indústria substitua os filtros sintéticos por biodegradáveis. – Alternativas para filtros plásticos já estão disponíveis – contou. A empresa de pesquisa americana Greenbutts (bitucas verdes, em tradução livre), por exemplo, criou um filtro feito de materiais naturais, como o cânhamo e o algodão, que se degradam rapidamente. Von Eichborn diz que é necessário acompanhar de perto os fabricantes. "A indústria do tabaco é conhecida por suas táticas para minar as políticas de saúde pública" e fará o mesmo com as ambientais, afirma. Embora as alternativas eletrônicas sejam, para alguns, a maneira mais fácil de contornar a natureza prejudicial dos cigarros, e apesar de os cigarros eletrônicos conterem menos substâncias cancerígenas do que as versões tradicionais, suas consequências para a saúde no longo prazo ainda são desconhecidas, assim como os impactos de seus resíduos no meio ambiente. De acordo com legisladores da UE, ainda não foi possível regular o descarte do cigarro eletrônico devido à falta de informação, mas muitos de seus materiais, como plástico e vidro, e substâncias tóxicas, como a nicotina, não facilitam em nada a reciclagem. – O mais importante é criar um mecanismo para ver como os cigarros eletrônicos estão sendo descartados – disse Prasad. "Nós devemos decidir agora como tratá-los na condição de lixo tóxico." A falta de uma resposta rápida traz a preocupação para os ambientalistas de que seja apenas uma questão de tempo até que restos de cigarros eletrônicos e convencionais sejam encontrados lado a lado em praias ao redor do mundo.  
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