Rio de Janeiro, 20 de Setembro de 2024

Francisco pede humildade, sobriedade e transparência à Cúria Romana

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Quinta, 23 de Dezembro de 2021 às 08:14, por: CdB

 

Segundo Francisco, a "Cúria não é só um instrumento logístico e burocrático para as necessidades da Igreja universal, mas o primeiro organismo a ser chamado a dar testemunho, e até por isso, ela conquista cada vez mais autoridade e eficácia quando assume, em primeira pessoa, os desafios da conversão sinodal a que ela também é chamada".

Por Redação, com ANSA - da Cidade do Vaticano

Na tradicional cerimônia para as saudações de Natal com os cardeais e a Cúria Romana, realizada nesta quinta-feira no Vaticano, o papa Francisco fez um duro discurso em que pede humildade, sobriedade e transparência aos membros do mais importante órgão na gestão da Igreja Católica.
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Papa fez tradicional saudação de Natal à Cúria Romana
– Se a palavra de Deus lembra ao mundo inteiro o valor da pobreza, nós, membros da Cúria, somos os primeiros a ter que nos empenhar em uma conversão à sobriedade. Se o Evangelho anuncia a justiça, nós somos os primeiros que precisam buscar viver com transparência, sem favorecimentos e acordos. Se a Igreja percorrer a via da sinodalidade, nós somos os primeiros a ter que converter a um estilo diferente de trabalho, de colaboração e comunhão. E isso só é possível através da estrada da humildade – disse aos religiosos. Segundo Francisco, a "Cúria não é só um instrumento logístico e burocrático para as necessidades da Igreja universal, mas o primeiro organismo a ser chamado a dar testemunho, e até por isso, ela conquista cada vez mais autoridade e eficácia quando assume, em primeira pessoa, os desafios da conversão sinodal a que ela também é chamada". Lembrando que a organização "a qual somos chamados a atuar não é do tipo empresarial, mas sim evangelizadora", o líder católico ainda voltou a ressaltar a importância da humildade para todos os funcionários religiosos ou laicos da instituição.

Mistério de Natal

– Essa época parece ter esquecido da humildade, ou parece que simplesmente a relegou a uma forma de moralismo, esvaziando-a da força transformadora de que ela é dotada. Mas, se precisasse exprimir todo o mistério de Natal em uma palavra, acredito que a humildade será a que mais pode ajudar – ressaltou. – Não se pode passar a vida escondendo-se dentro de uma armadura, um cargo, um reconhecimento. Chega um momento, na existência de cada um, em que o desejo de não viver mais dentro da glória desse mundo, mas na plenitude de uma vida sincera, sem a necessidade de armaduras e de máscaras. O Natal é um momento em que cada um de nós tem que ter a coragem de tirar a própria armadura, de tirar os panos do próprio papel do reconhecimento social, do brilho das glórias desse mundo e assumir a sua própria humildade – continuou. Nesse momento, Jorge Mario Bergoglio alertou para a "perigosa tentação" da "mundanidade espiritual" que diferentemente de "todas as outras tentações, é difícil de ser desmascarada porque está coberta de tudo que a garante: o nosso cargo, a liturgia, a doutrina, a religiosidade". E "todos nós sabemos que o contrário da humildade é o orgulho". – Se é verdade que sem humildade não se pode encontrar com Deus, e não se pode fazer uma experiência de salvação, é também verdade que sem humildade não se pode encontrar nem o próximo, o irmão e a irmã que vivem ao lado. Desejo a vocês, e a mim em primeiro lugar, de deixar-se envolver pela humildade do presépio, da pobreza e da essência com a qual o filho de Deus entrou no mundo – ressaltou.

Tradições

Em um outro momento de seu discurso à Cúria Romana, o papa deu um claro recado à ala mais conservadora da Igreja Católica e disse que tradição não é "reviver o passado". Comumente, os mais conservadores fazem ataques ao líder católico por suas prédicas e por sua vontade de ter uma Igreja mais aberta aos necessitados. – Relembrar significa 'reportar ao coração'. A vital memória que temos das tradições, das raízes, não é um culto ao passado, mas um gesto interior através do qual reportamos ao coração constantemente o que nos precedeu, o que passou pela nossa história, o que nos conduziu até aqui. Relembrar não é repetir, mas fazer um tesouro, reviver e, com gratidão, deixar que a força do Espírito Santo faça nosso coração arder como os primeiros discípulos – disse o Pontífice aos presentes. – Mas, para não fazer com que o relembrar vire uma prisão do passado, nós temos a necessidade de um outro verbo: gerar. O humilde tem o coração também no futuro, não só no passado, porque sabe olhar adiante e sabe olhar os frutos, com a memória cheia de gratidão. O humilde gera, convida e avança para o desconhecido. Já o orgulhoso repete, endurece, e o endurecimento é uma perversão atual - e se fecha na sua repetição, se sente seguro no que conhece e tem medo do novo porque não pode controlá-lo, se sente desestabilizado porque perdeu a memória – acrescentou.

Sínodo 

Lembrando o início do Sínodo dos Bispos, iniciado em 17 de outubro, e que ele durará por dois anos, o papa Francisco voltou a fazer críticas ao "clericalismo" e destacou que "só a humildade pode nos dar a condição justa para poder nos encontrar e escutar, para dialogar e discernir". A sinodalidade é um caminho para o qual nós temos que nos converter porque, acima de tudo, nós estamos aqui e vivemos a experiência do serviço à Igreja universal por meio do trabalho na Cúria Romana. O clericalismo é como uma tentação perversa que serpenteia cotidianamente em nosso meio e nos faz pensar sempre em um Deus que fala só com alguns enquanto coloca os outros para apenas ouvir e executar", afirmou ainda.
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