Rio de Janeiro, 19 de Setembro de 2024

Fernando Cavendish faz sua primeira refeição na cadeia

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Sábado, 02 de Julho de 2016 às 13:45, por: CdB

Cavendish chegava de uma viagem à Europa e foi considerado como foragido após decretada a prisão, nesta quinta-feira

 
Por Redação - do Rio de Janeiro
  O milionário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Construções, experimentou pela primeira vez, neste sábado, a comida servida na cadeia. Amigo e vizinho do ex-governador do Estado do Rio Sergio Cabral, o engenheiro foi preso nesta madrugada pela Polícia Federal (PF) ao desembarcar no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio.
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Fernando Cavendish foi preso ao desembarcar no Aeroporto do Galeão, onde chegou de uma viagem à Europa
Cavendish chegava de uma viagem à Europa e foi considerado como foragido após decretada a prisão, nesta quinta-feira, pela Vara Federal do Rio de Janeiro, na Operação Saqueador. Outras quatro pessoas foram acusadas de participar de esquema de corrupção e lavagem de dinheiro por meio de obras públicas, envolvendo a construtora. Mas Cavendish não terá tempo de conhecer toda a extensão do cardápio, na prisão. Na noite passada, o desembargador Antonio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, concedeu prisão domiciliar para o empreiteiro e outros cinco presos. A decisão do magistrado foi tomada em segunda instância e reverteu a prisão preventiva, determinada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Os procuradores já avisaram que pretendem recorrer da decisão do magistrado. Athié acolheu pedido de habeas corpus da defesa de Cavendish: "A decisão do magistrado reverte a prisão preventiva em prisão domiciliar até que seja comprovada ocupação regular. A defesa reitera ainda que, consciente da legalidade dos seus atos, Fernando Cavendish sempre atendeu às solicitações da autoridade policial e assim continuará a fazer no âmbito do inquérito policial", destacou a defesa de Cavendish. Nas ações do dia 30, o empresário não foi encontrado em seu apartamento, no Leblon, Zona Sul do Rio.

Delação premiada

As delações premiadas do ex-senador Delcídio do Amaral e de executivos da Andrade Gutierrez, negociadas na Operação Lava Jato, segundo os investigadores, levantaram novos indícios da relação entre o dono da Delta e Cachoeira no pagamento de propina a agentes públicos. Na delação da Andrade, executivos citaram o ex-governador do Rio Sérgio Cabral como beneficiário de propinas por obras do Maracanã, do Comperj e do Arco Metropolitano, o que ele nega. A Delta participou das três obras. A ação do MPF é um desdobramento da Operação Monte Carlo, que em 2012 apontou indícios do envolvimento de Cachoeira com Cavendish no desvio de verbas de obras públicas no Centro-Oeste. À época, esses crimes não geraram condenações na Justiça para Cavendish. Cachoeira foi sentenciado a 39 anos de prisão pelos crimes de peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha, mas recorria em liberdade. Segundo a polícia, a Delta chegou a receber dinheiro público para executar obras que não saíram do papel, como a transposição do Rio Turvo, no sul do Rio. A empresa recebeu R$ 80 milhões pela obra. A investigação apontou também fraudes na construção de estradas, limpeza de rios e na construção do parque aquático Maria Lenk para os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. A arena também será usada na Olimpíada, para as provas de salto ornamental.

Grau de recurso

Após a decisão do desembargador Athié, o Ministério Público Federal (MPF) avisa que pretende recorrer do benefício concedido pela prisão domiciliar para Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, Adir Assad, Marcelo Abbud, Cláudio Abreu e Fernando Cavendish. — Vamos recorrer para tentar reverter essa decisão, que beira o abolicionismo penal, prisões domiciliares sem análise mais profunda e cuidadosa, num contexto de desvios de quase 400 milhões, soltura relâmpago — disse o procurador-chefe da procuradoria Regional da República, José Augusto Vagos, que atua junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Os mandados de prisão foram expedidos no âmbito da Operação Saqueador da Polícia Federal, que rastreia esquema de desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro, no valor de R$ 370 milhões. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), os principais acusados são o empresário Fernando Cavendish, ex-dono empreiteira Delta Construção, e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. — (Trata-se de) um desprestígio aos órgãos de persecução que trabalharam duro para essa operação, gasto enorme de tempo e dinheiro para, sem maiores considerações e aprofundamentos, concederem-se prisões domiciliares em série — acrescentou. Segundo o MPF, foram rastreados os pagamentos feitos pela Delta a empresas de fachada. Foi verificado ainda aumento dos valores dessas transferências em anos de eleições. Foram feitas transferências, por exemplo, de R$ 80 milhões para uma obra inexistente chamada Transposição do Rio Turvo, no Rio de Janeiro. As empresas, que só existiam no papel, recebiam o dinheiro, mas não executaram o serviço. De acordo com o MPF, as empresas de Adir Assad e Marcelo Abbud emitiam notas frias não só para a Delta, mas para muitas outras empresas. Segundo as investigações, o esquema também serviu de suporte à corrupção na Petrobras.
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