EUA: os norte-americanos que sobreviveram a múltiplos ataques em massa

Arquivado em:
Publicado Sexta, 31 de Março de 2023 às 10:28, por: CdB

Nesta semana, um atirador abriu fogo contra os alunos em uma escola cristã particular na cidade e seu filho Aldane foi obrigado a ficar confinado em sua escola secundária nos arredores.


Por Redação, com BBC News - de Washington


Shaundelle Brooks diz que se preocupa com ataques em massa com armas de fogo toda vez que deixa seu filho Aldane na escola.


Faz apenas cinco anos que ela perdeu seu filho mais velho, Akilah DaSilva, de 23 anos, em um ataque em um restaurante em Nashville.




eua-7.jpg
Um homem presta homenagem no local de um ataque a tiros em uma escola particular em Nashville, Tennessee

Nesta semana, um atirador abriu fogo contra os alunos em uma escola cristã particular na cidade e seu filho Aldane foi obrigado a ficar confinado em sua escola secundária nos arredores.


– Meu coração disparou – disse Brooks à emissora americana CNN. "Aqui estamos nós de novo, outro ataque em massa."


Brooks e sua família fazem parte de um pequeno grupo de pessoas nos Estados Unidos que foram vítimas de vários ataques com arma de fogo.


Não há dados sobre quantas pessoas assim existem. Mas, embora os ataques em massa representem uma parcela extremamente pequena do total de incidentes de violência armada nos EUA, seu impacto é profundo.


Para aqueles que testemunharam mais de um caso de violência armada na vida, existe um risco ainda maior de problemas graves de saúde mental, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático, explica Robin Gurwitch, psicóloga do Centro Médico da Universidade de Duke.


– Quanto mais exposição temos a eventos traumáticos, mais eles se acumulam – diz.


Em um dia de neve de novembro em Michigan, a estudante do Ensino Médio Emma Riddle teve que correr para salvar sua própria vida depois que um atirador abriu fogo contra seus colegas de classe.


Ela se lembra particularmente de seus pés gelados, pois usava tênis Vans velhos que vestira às pressas naquela manhã.



Estado do Michigan


Durante meses após o ataque de 2021, no qual quatro estudantes morreram, Riddle usou tênis esportivos todos os dias, disse ela, para o caso de ser surpreendida com outra situação semelhante.


Menos de dois anos depois, Riddle, de 18 anos, se viu confrontada com outro ataque em massa, desta vez na Universidade do Estado do Michigan.


Ela e dezenas de outros alunos da Oxford High School passaram horas trancados em uma sala enquanto um atirador abria fogo contra vítimas no campus, matando três pessoas e ferindo cinco.


– Estou sempre preparada – disse Riddle à agência britânica de notícias BBC. "Eu sempre olho para as saídas se estou em um prédio ou para ver se há uma janela pela qual posso sair ou se há uma porta que posso trancar rapidamente."


Ashbey Beasley estava visitando Nashville no momento do ataque à Escola Covenant no início desta semana. Ela e seu filho são sobreviventes de outro episódio semelhante, em Highland Park, Illinois, no ano passado, quando sete pessoas foram mortas.


Ela foi a uma das coletivas de imprensa da polícia em Nashville na segunda-feira e, ao final, abordou os repórteres e perguntou: "Como isso ainda está acontecendo? Como nossos filhos ainda estão morrendo e por que estamos falhando com eles?"



Ataques em massa


Os ataques em massa com armas de fogo são a causa de estresse número um apontada pelos norte-americanos em uma pesquisa de 2019, na qual um terço dos adultos disse que evitava certos lugares e eventos por conta de seus temores.


E pesquisas recentes sugerem que a maioria dos adolescentes nos EUA está preocupada que um caso desses aconteça em sua escola.


O aumento da cobertura da imprensa sobre esses eventos provavelmente contribuiu para uma sensação de pânico, diz James Alan Fox, professor da Universidade Northeastern que mantém um banco de dados do USA Today sobre assassinatos em massa. "Parece que está acontecendo o tempo todo, mas não está", disse ele.


Mas todo ataque em massa também deixa amplos efeitos em cascata na família, amigos e comunidades das vítimas, dz Charles Branas, presidente do Departamento de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia.


Mesmo aqueles que não testemunharam a violência armada, mas tiveram que ficar em confinamento devido a falsas ameaças de ataque, são mudados para sempre por aquele evento, diz James Densley, um anglo-americano codiretor do Projeto Violência, um centro de pesquisa que monitora ataaques armados nos Estados Unidos.


Os norte-americanos também estão sujeitos a um tipo de trauma "indireto", pois as crianças participam de treinamentos contra ataques em massa nas escolas e muitas são forçadas a reviver esses episódios nas redes sociais, onde são bombardeadas com imagens, disse ele.


Para aqueles que tiveram que reviver seu trauma ao testemunhar um segundo ataque em massa, esses efeitos negativos são multiplicados, diz Gurwitch. "Agora não é mais só um ataque, mas dois, e vou pensar que quando virar a esquina serão três, quatro e cinco."


Riddle diz que já havia aprendido como lidar com a tragédia em sua escola, trabalhando para lidar com a dor ao longo do tempo.


Mas a exposição a vários ataques em massa em duas cidades em que morou ao longo de menos de um ano e meio interrompeu seu processo de cura, disse ela.


– Quando você está lidando com as emoções e tentando processar tudo, você se apoia dizendo 'Acabou. Nunca mais terei que passar por isso novamente. Nunca mais terei que ir a vigílias de homenagem ou funerais de amigos ' – diz.


– Vai demorar muito até que eu volte a me sentir como era antes desses dois eventos.



Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo