Estudo mostra excesso de 40% nos óbitos maternos em 2020

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Publicado Segunda, 23 de Janeiro de 2023 às 09:02, por: CdB

O artigo mostra que as gestantes e puérperas foram mais penalizadas pela pandemia do que a população em geral. Segundo o estudo, as chances de ser mulher negra, residir na zona rural e estar internada fora do município de residência entre os óbitos maternos foram 44, 61 e 28% maiores do que o grupo controle.

Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro

 Um estudo divulgado pelo Observatório Covid-19 Fiocruz no último dia 19 aponta que, em 2020, houve um excesso de óbitos maternos de 40%, quando comparado aos anos anteriores. De acordo com a pesquisa, mesmo considerando a expectativa de aumento das mortes em geral em decorrência da pandemia de covid-19, houve um excesso de 14%.

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O atraso do início da vacinação entre as grávidas e puérperas é apontado como um fator decisivo para o alto número de mortes

A pesquisa, que estimou o excesso de mortes maternas causadas direta e indiretamente pela covid-19 no Brasil no ano de 2020, foi publicada no último dia 12 na revista cientifica BMC Pregnancy and Childbirth. 

O artigo mostra que as gestantes e puérperas foram mais penalizadas pela pandemia do que a população em geral. Segundo o estudo, as chances de ser mulher negra, residir na zona rural e estar internada fora do município de residência entre os óbitos maternos foram 44, 61 e 28% maiores do que o grupo controle. Ao longo de 2020, o país registrou 549 mortes maternas por covid-19, principalmente em gestantes no segundo e terceiro trimestre.

Mulheres grávidas e puérperas

O estudo identificou também as características clínicas e manejo clínico das mulheres grávidas e puérperas atendidas por infecção com o coronavírus. De acordo com a pesquisa, as chances de hospitalização de gestantes com diagnóstico de covid-19 foram 337% maiores. Para as internações em UTI, as chances foram 73% maiores e o uso de suporte ventilatório invasivo 64% maior que os pacientes em geral com covid-19 que morreram em 2020.

Segundo o pesquisador Raphael Guimarães, este cenário compromete o desafio de alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), até 2030 em um panorama global.

– A rede de serviços parece ter sido mais protetiva às gestantes e puérperas, garantindo internações mais imediatas e direcionamento para a terapia intensiva e invasiva. Contudo, o atraso do início da vacinação entre as grávidas e puérperas pode ter sido decisiva na maior penalização destas mulheres. Destacamos ainda que o excesso de óbitos teve a covid-19 não apenas como causa direta, mas inflacionou o número de mortes de mulheres que não conseguem acesso ao pré-natal e condições adequadas de realização do seu parto no país – explica.

Guimarães reflete que é importante reconhecer que a covid-19 não atingiu de forma homogênea todos os grupos sociais e demográficos. Isso significa, segundo ele, que as estratégias de monitoramento e intervenção devem ser orientadas por perfis e demandas específicas, garantindo a premissa da equidade das políticas públicas, incluindo as políticas de saúde. O estudo mostrou que a morte materna é marcada pelas iniquidades sociais, que têm relação estreita com a oferta de serviços de qualidade.

A pesquisa utilizou dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) para óbitos por covid-19 nos anos de 2020 e 2021, e comparou com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade no ano de 2020 (quando já havia pandemia) e nos  cinco anos anteriores, para estimar o número esperado de mortes maternas no país.

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