Economia cresce, mas sem avanço estrutural necessário, diz economista

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Publicado Quarta, 21 de Fevereiro de 2024 às 18:57, por: CdB

Segundo a economista do banco francês, para explicar o crescimento consistente do PIB acima das projeções nos últimos anos, o PIB potencial em tese deveria ter subido para algo em torno de 2,5%.


Por Redação, com Bloomberg - de São Paulo

Há quatro anos, a economia brasileira cresce acima do que as projeções indicavam. O que é uma notícia positiva reflete, no entanto, uma realidade menos favorável: nesse período, não houve avanço estrutural que tenha ampliado o chamado PIB potencial, ou seja, a capacidade de crescimento do país sem gerar pressões sobre a inflação. As conclusões integram um estudo recém-concluído por Laiz Carvalho, economista do BNP Paribas para o Brasil.

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As projeções do BC para o PIB deste ano tem sido mais otimistas do que no mês passado


— A resposta imediata seria dizer que o mercado errou tanto porque o PIB potencial se tornou maior do que é estimado pelos economistas. Mas os cálculos que fizemos, que envolvem a produtividade do capital e a produtividade da mão-de-obra, apontaram para um PIB potencial de 1,8%, pouco acima do 1,6% estimado anteriormente — disse Carvalho à agência norte-americana de notícias Bloomberg Línea.

Segundo a economista do banco francês, para explicar o crescimento consistente do PIB acima das projeções nos últimos anos, o PIB potencial em tese deveria ter subido para algo em torno de 2,5%. Mas isso está distante de acontecer com uma taxa de investimento equivalente a 16,5% do PIB e uma produtividade total dos fatores (PTF) que não cresce de forma significativa acima de 0,4%.

 

Dispersão


Diante desse diagnóstico, Carvalho identificou que, a cada ano desde 2020, determinadores fatores ajudaram a impulsionar o PIB para além do que a maioria do mercado projetava.

Entre 2020 e 2023 - o dado oficial será divulgado pelo IBGE no dia 1° de março -, o erro médio das projeções de mercado segundo a mediana do boletim Focus (publicação do Banco Central) ficou em 2,44 pontos percentuais (p.p.). O desvio padrão foi de 0,59% - quanto menor o número, menor a dispersão dos dados coletados.

Para efeito de comparação, nas duas décadas anteriores, entre 1999 e 2019, o erro médio das projeções ficou muito abaixo, em 0,16 p.p., enquanto o desvio-padrão foi de 1,69%.

— Em 2021, houve uma contribuição maior de investimentos, depois da queda no começo da pandemia; em 2022 e 2023, do consumo das famílias, com os programas de transferência de renda e de acesso a crédito; no ano passado, também houve uma composição do agro, com uma safra muito forte, com a balança comercial — acrescentou Carvalho.

 

Trabalho e capital


Em 2023, a expansão prevista de 3,1% teve como destaque, sob a ótica da oferta, o setor agro, com avanço de 15,7% na base anual, seguido de serviços (+2,6%) e indústria (1,4%), nas projeções do banco. E isso indica que atividades relacionadas ao agro devem ter se destacado igualmente.

Na outra ponta, fatores que poderiam explicar uma eventual mudança estrutural na economia brasileira não confirmaram essa hipótese quando analisados mais a fundo, segundo ela.

O mercado de trabalho tem registrado as taxas de desemprego mais baixas desde 2016, mas essa evolução reflete em boa medida a queda da taxa de participação da população na força de trabalho, de 63,7% em 2019 para 62% em novembro passado.

Sem essa queda, o desemprego teria se mantido em torno de 10,2%, em vez dos 7,5% no penúltimo mês de 2023. No mesmo contexto, resumiu, “a renda média do trabalhador ainda está nos níveis pré-pandemia”.

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