Duque de Caxias: inspeção constata mortes em maternidade

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Publicado Segunda, 04 de Julho de 2022 às 10:44, por: CdB

Além das mortes, a visita também constatou déficit na quantidade de profissionais de limpeza e falta de enfermeiros e técnicos de enfermagem para atender a demanda. Durante a inspeção, verificou-se também que os banheiros das enfermarias estavam sujos, havia falta de álcool gel nos recipientes.

Por Redação, com Brasil de Fato - do Rio de Janeiro

A Maternidade Municipal de Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, registrou 36 natimortos, quando o feto morre dentro do útero ou durante o trabalho de parto e quatro neomortos, ou seja, falecidos no primeiro mês de vida ou no último mês de vida intrauterina entre janeiro e junho de 2022.
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A visita à Maternidade de Santa Cruz da Serra foi motivada por relatos de violência obstétrica sofrida por mulheres que recorreram à unidade
Os dados foram levantados após inspeção técnica realizada na última sexta-feira pela a Frente Parlamentar de Combate à Violência Obstétrica e Mortalidade Materna da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). – Essas mortes não deveriam acontecer. Elas decorrem de um sistema de saúde falho. As visitas realizadas pela Frente têm o objetivo de dar visibilidade aos problemas que as mulheres, principalmente as negras, encaram dentro das unidades de saúde, como o racismo obstétrico. Além disso, queremos buscar diálogo para melhorar o atendimento às gestantes e puérperas – disse a deputada Mônica Francisco (Psol), que preside a Frente Parlamentar.

Problemas

Além das mortes, a visita também constatou déficit na quantidade de profissionais de limpeza e falta de enfermeiros e técnicos de enfermagem para atender a demanda. Durante a inspeção, verificou-se também que os banheiros das enfermarias estavam sujos, havia falta de álcool gel nos recipientes distribuídos pelos corredores e as lixeiras eram insuficientes na maternidade. Outro problema relatado pela diretora-geral da unidade, Ana Tereza Derraik Barbosa, é a falta de uma unidade de transfusão de sangue, fundamental para atender casos de emergência entre gestantes e puérperas. Embora o serviço tenha sido anunciado na inauguração da maternidade, assim como a UTI Materna, a unidade transfusional nunca funcionou, segundo a diretora. De acordo com a Frente, na enfermaria, outras situações inadequadas chamaram a atenção da equipe técnica que acompanhou a visita. Uma enfermeira relatou que se divide no atendimento às pacientes com covid-19 e às mulheres internadas em uma das enfermarias, o que gera risco de contaminação das demais pacientes. Além disso, de acordo com a visita, três mulheres internadas com covid-19 compartilhavam o mesmo quarto com três acompanhantes que usavam máscaras. A quantidade insuficiente de profissionais de enfermagem foi observada pelas representantes do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) que acompanharam a visita. A Maternidade de Santa Cruz da Serra apresenta 13 enfermarias com seis leitos cada uma. Apenas quatro enfermeiras e 12 técnicos de enfermagem prestam atendimento ao total de 78 leitos. Inaugurada há dois anos, a maternidade apresenta boa infraestrutura. Conta com um centro para parto normal bem equipado e com enfermeiras obstétricas atuando. A unidade contraceptiva, implantada pela diretora Ana Tereza, que assumiu a maternidade em maio, é outro fator positivo. De maio a junho, foram implantados 27 DIUs. A visita à Maternidade de Santa Cruz da Serra foi motivada por relatos de violência obstétrica sofrida por mulheres que recorreram à unidade de saúde. Em geral, elas se queixam do tempo de espera pelo atendimento e da peregrinação em busca da prestação do serviço no município de Duque de Caxias. Além do Coren, representantes dos mandatos das parlamentares que compõem a Frente Parlamentar de Combate à Violência Obstétrica e Mortalidade Materna acompanharam a visita. Participam da Frente os deputados estaduais Renata Souza (Psol), Enfermeira Rejane (PCdoB), Zeidan (PT), Tia Ju (Republicanos), Carlos Minc (PSB) e Renan Ferreirinha (PSD). Em junho, a Frente visitou a Maternidade Municipal Mário Niajar, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Na última semana, o mandato de Mônica Francisco protocolou o Projeto de Lei 6168/2022 que altera lei anterior, que instituiu a Semana Estadual de Combate à Mortalidade Materna. O projeto acrescenta à redação o enfrentamento à violência e ao racismo obstétricos, criando a Semana Estadual de Combate à Mortalidade Materna e Violência e Racismo Obstétrico no Estado do Rio de Janeiro. O Brasil de Fato procurou a prefeitura de Duque de Caxias para um posicionamento sobre a situação da maternidade. A reportagem não obteve retorno da assessoria até o fechamento. O espaço segue aberto para o município.
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