Denúncias de corrupção na Saúde proliferam e confrontam discurso oficial

Arquivado em:
Publicado Segunda, 28 de Junho de 2021 às 12:05, por: CdB

"Se existir algo realmente ilegal, não é só nessa vacina (Covaxin), é na pasta toda. O presidente (Jair) Bolsonaro demonstra claramente que não tem controle sobre essa pasta", desconfia o deputado. Ele e o irmão prestaram depoimento à CPI na sexta-feira.

Por Redação, com RBA - de Brasília

A corrupção no Ministério da Saúde sob o governo Bolsonaro está muito além do esquema da vacina Covaxin, segundo afirmou o deputado Luis Miranda (DEM-DF) ao diário conservador paulistano Folha de S.Paulo (FSP), em sua edição dominical. Miranda adiantou que seu irmão, Luis Ricardo Miranda, chefe do departamento de importação do Ministério, vê indícios de operação “100% fraudulenta” para a compra de testes de covid-19.

luiz-miranda.jpg
O deputado Luiz Miranda (DEM-DF) citou o colega, líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros, no esquema da vacina Covaxin

— Se existir algo realmente ilegal, não é só nessa vacina (Covaxin), é na pasta toda. O presidente (Jair) Bolsonaro demonstra claramente que não tem controle sobre essa pasta — acrescentou o deputado. Ele e o irmão prestaram depoimento à CPI na sexta-feira.

O deputado pontuou que seu irmão pode dar mais informações em uma sessão secreta da comissão. Ele mantém no ar a dúvida sobre se teria gravado Bolsonaro durante a conversa com ele.

— É melhor no ar do que a certeza dela. Na hora certa, se precisar — sustentou.

Testes

Miranda também declarou, na entrevista, que “os militares tinham uma presença meio não republicana” no Ministério da Saúde. Segundo o deputado, há pessoas no Ministério da Saúde tentando usar a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para fazer a jogada, com dinheiro do Banco Mundial, “uma compra gigantesca, altamente desnecessária”, uma compra para mais 14 milhões de testes de antígenos, além dos 3 milhões já comprados.

​Miranda propõe que seu irmão forneça mais dados e informações sobre corrupção no Ministério da Saúde, em sessão secreta da CPI da Covid.

— Meu irmão sabe muita coisa. Acho que se a CPI fizer reunião fechada, pedir dados, informações… Meu irmão não quer fazer denúncias porque, pela forma como o Palácio agiu, qualquer informação que ele der, que porventura não se prove lá na frente, vão tentar colocar uma denunciação caluniosa — adicionou.

Denúncias

Miranda contou que entre essas informações podem ser sobre aditivos de aumento de valores, feitos às escuras, aumentando valores de licitações. Sobre a conversa com Jair Bolsonaro, o deputado disse que ele “não é doido” de confrontar a sua versão da conversa de 50 minutos que tiveram. Afirmou que se Bolsonaro fizer isso, “vai tomar um susto”.

— Não pode me chamar de mentiroso, pode falar qualquer coisa, menos que sou mentiroso — enfatizou, reafirmando que Bolsonaro citou o nome do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros, ao tomar conhecimento das denúncias que encaminhou a ele sobre a intermediação da Precisa Medicamentos para a compra da vacina indiana Covaxin.

Ainda nesta segunda-feira, a CPI da Covid apresentou uma notícia-crime contra o presidente da República. Ele é acusado de prevaricação, por não ter tomado providências cabíveis, após ter sido avisado pelos irmãos Miranda, de suspeitas de irregularidades ocorridas no contrato de aquisição da vacina Covaxin. Contudo, também há indícios de que Bolsonaro cometeu crime de advocacia administrativa em benefício do imunizante indiano.

Precisa

Em janeiro deste ano, Bolsonaro enviou uma carta ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pedindo celeridade na liberação da Covaxin. Naquele momento, o imunizante nem sequer contava com a aprovação emergencial da agência reguladora em seu país. Ainda assim, o presidente destacou que a candidata indiana estava “entre as vacinas selecionadas pelo governo brasileiro”.

No início do mês, o senador Rogério Carvalho (PT-SE), integrante da CPI da Covid, apresentou denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro, por tráfico de influência em favor de dois laboratórios brasileiros fabricantes da hidroxicloroquina. Em abril do ano passado, Bolsonaro havia telefonado para Modi, fazendo um “apelo” pela liberação dos insumos para a fabricação dos medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19.

— Agora o presidente Bolsonaro também liga para Modi para que o laboratório Bharat Biotech pudesse fornecer a Covaxin a essa empresa específica (Precisa Medicamentos), que tinha o contrato de exclusividade de comercialização aqui no Brasil. Portanto, está caracterizada a advocacia administrativa, para garantir o interesse privado de uma empresa, com a interferência direta do presidente da República, o que é muito grave — resumiu Carvalho.

Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo