Cuba: um bloqueio econômico sem paralelo na história

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Publicado Terça, 08 de Novembro de 2022 às 06:06, por: CdB

O relatório detalha que entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022, as perdas causadas pelo bloqueio foram de US$ 3,806 bilhões, um recorde histórico para um período de apenas sete meses. O Produto Interno Bruto de Cuba, segundo dados muito conservadores, poderia ter crescido.

Por Hedelberto López Blanch – de São Paulo

É impossível para alguém em sã consciência e com um senso elementar de humanidade pensar que o bloqueio econômico, financeiro e comercial que os Estados Unidos mantêm e reforçam contra Cuba há mais de 60 anos não existe. Os dados e fatos são esmagadores.
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O bloqueio é o elemento central que define a natureza da política dos Estados Unidos em relação a Cuba
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez Parrilla, em recente conferência perante a imprensa, informou que Cuba levaria pela trigésima vez à Assembleia Geral das Nações Unidas um documento no qual demonstra a necessidade de acabar com o bloqueio contra Cuba, debatido nestes dias 2 e 3 de novembro. O relatório detalha que entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022, as perdas causadas pelo bloqueio foram de US$ 3,806 bilhões, um recorde histórico para um período de apenas sete meses. O Produto Interno Bruto de Cuba, segundo dados muito conservadores, poderia ter crescido, apesar das circunstâncias adversas que a economia cubana enfrenta, 4,5% nesse período, se essas medidas não tivessem sido aplicadas. Acrescenta que, nos primeiros 14 meses do governo Joe Biden, os prejuízos causados ​​pelo bloqueio chegam a US$ 6,364 bilhões, ou seja, mais de US$ 454 milhões por mês. Nos 60 anos decorridos, a preços correntes, os danos acumulados totalizam US$ 154,217 bilhões. Quanto ao valor de uma onça de ouro, levando em conta a depreciação, os danos acumulados atingem a enorme quantia de US$ 1.391.111.000 (ou US$ 1,391 bilhão). Um número exorbitante para uma economia pequena, sem grandes recursos naturais e uma nação subdesenvolvida. O líder da Revolução, Comandante em Chefe Fidel Castro, referiu-se várias vezes a esta medida criminosa: “O bloqueio é mais do que proibir a venda de mercadorias dos Estados Unidos, impedir a compra ou venda nos Estados Unidos, é uma pressão feroz e uma perseguição feroz para nos impedir de realizar operações comerciais de qualquer tipo, e todo esse imenso poder se concentra hoje contra nosso país”. Em outro discurso, afirmou: “Para nós, a questão de acabar com o bloqueio em troca de concessões políticas, concessões que correspondem à soberania do nosso país, é inaceitável. É absolutamente inaceitável, é ultrajante, é irritante e, na verdade, preferimos perecer do que desistir de nossa soberania".

Estados Unidos

Os Estados Unidos foram guiados todos esses anos pelo memorando redigido em 6 de abril de 1960 pelo subsecretário de Estado Lester Mallory ao então presidente D. Eisenhower, no qual afirmava: “A maioria dos cubanos apoia Castro…a única forma previsível de reduzir o seu apoio interno é através do desencanto e da insatisfação decorrentes do mal-estar econômico e das dificuldades materiais”… E desta forma “provocar fome e desespero e a derrubada do Governo”. O bloqueio viola flagrantemente o direito internacional e, em particular, a liberdade de comércio e investimento. Nega créditos e ajudas financeiras a países e entidades que cooperam com Cuba e estabelece que as empresas de qualquer país do mundo que tenham negócios com a Ilha podem estar sujeitas a represálias legais. Ele ainda proíbe potenciais investidores de entrar nos Estados Unidos. Trump reforçou o bloqueio com 243 novas medidas e nada fez para flexibilizá-lo por motivos humanitários diante do avanço da pandemia global. Ao contrário, promoveu uma campanha midiática de descrédito contra os médicos cubanos, multiplicou os projetos de subversão interna e fez todo o possível para impedir a aquisição de medicamentos, meios de proteção, exames diagnósticos e insumos básicos destinados ao combate à epidemia e à fabricação de vacinas na ilha. Em seu discurso, o chanceler cubano destacou que, nesse sentido, a política do presidente Joseph Biden contra a Ilha “é infelizmente e inercialmente a mesma do governo do Partido Republicano. Nenhuma mudança foi feita nessa política". Atualmente, todas as receitas, todas as fontes de financiamento e abastecimento do país continuam sendo perseguidas, de modo que o bloqueio é o elemento central que define a natureza da política dos Estados Unidos em relação a Cuba. Embora a mídia hegemônica ignore os efeitos dessas medidas, a verdade é que Cuba não pode adquirir tecnologias, equipamentos, peças, tecnologias digitais ou softwares que tenham pelo menos 10% de componentes americanos, o que gera impactos diretos, como o da falta de moeda estrangeira para garantir o abastecimento.

Navios contratados

Empresas de navegação e navios contratados para importar combustível e outros suprimentos vitais são perseguidos sob ameaça de sanções. Multas multimilionárias são impostas a bancos internacionais pela menor transação envolvendo Cuba. Durante o VIII Congresso do Partido Comunista, o general do Exército Raúl Castro descreveu o bloqueio como "a guerra econômica mais abrangente, desigual e prolongada que foi desencadeada contra qualquer nação". Certamente no início de novembro, quando Cuba apresentar pela trigésima vez à Assembleia Geral da ONU o relatório sobre a necessidade de acabar com o bloqueio contra a Ilha, a esmagadora maioria de seus membros votará novamente para eliminá-lo. Embora o arrogante e decadente império estadunidense ignore esse pedido universal e continue apegado à ideia de derrubar o governo revolucionário com essas medidas perversas, desumanas e prejudiciais, Cuba continuará resistindo aos ataques como faz há mais de 60 anos.  

Hedelberto López Blanch, é jornalista cubano, escreve para o jornal Juventud Rebelde e para o semanário Options. É autor de “Emigração cubana nos Estados Unidos”, “Histórias secretas de médicos cubanos na África” e “Miami, dinheiro sujo”, entre outros.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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