Consequências da crise climática são mais sentidas nas comunidades

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Publicado Terça, 28 de Novembro de 2023 às 09:55, por: CdB

A crise climática faz com que essas temperaturas sejam mais sentidas em ambientes com pouca vegetação, como é o Complexo de Favelas da Maré, que concentra mais de 139 mil pessoas, distribuídas em 17 comunidades e em uma área de aproximadamente 4 km², segundo dados da Redes da Maré. 


Por Tainá de Paula - do Rio de Janeiro


No início do mês de outubro, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) divulgou um estudo em que revela alguns dados assustadores em relação às mudanças climáticas. O mês de setembro deste ano foi o mais quente dos últimos 20 anos e os meses de julho e agosto tiveram as maiores temperaturas históricas para os períodos. 




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A saída para minimizar os impactos da crise climática não é outra senão, principalmente, a cobertura vegetal dos solos das grandes cidades

E adivinhem onde foram registradas as temperaturas mais elevadas. Se você pensou em favelas, acertou. A Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro apresentou uma temperatura média de 24,7º no mês de setembro e a máxima chegou a 26,5º. 


Outra informação importante é a elevação das temperaturas nos meses de julho e agosto que registraram 36,5º e 38,7ºC, respectivamente, consideradas as maiores já registradas nos dois meses, na estação mais fria do ano, o inverno. Esse cenário revela a importância de aumentar a cobertura vegetada nas cidades, principalmente em áreas com maior densidade demográfica que, historicamente, são vilas e favelas. 


“No Rio de Janeiro, apesar de toda arquitetura natural e a vasta cobertura de Mata Atlântica, ainda temos concentração de calor em áreas periféricas”. 


Esses locais têm um adensamento populacional, que aumenta ainda mais a sensação térmica. A crise climática faz com que essas temperaturas sejam mais sentidas em ambientes com pouca vegetação, como é o Complexo de Favelas da Maré, que concentra mais de 139 mil pessoas, distribuídas em 17 comunidades e em uma área de aproximadamente 4 km², segundo dados da Redes da Maré. 



Favela da Maré


Esses números fazem com que a Favela da Maré seja a 9ª mais populosa do Rio de Janeiro e maior do que 96% dos municípios do Brasil. Se o complexo fosse um município, estaria na 213ª posição dos mais populosos do Brasil, num universo de 5.568 cidades no país. E só estou dando um exemplo da Maré, mas se formos fazer esse levantamento em outras localidades, podemos ter números ainda mais expressivos, como no Complexo do Alemão ou na Rocinha.


“A saída para minimizar os impactos da crise climática não é outra senão, principalmente, a cobertura vegetal dos solos das grandes cidades”. 


Dessa forma, implantar projetos de cobertura vegetal, em médio e longo prazos, podem melhorar a qualidade de vida das populações. Na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro estamos empenhados em aumentar essa cobertura, repaginando o programa Mutirão de Reflorestamento, inclusive inserindo a utilização de drones para aprimorar os estudo e, assim, ampliar a capacidade de cobertura.


Além disso, ao redor desses territórios periféricos, temos programas como Cada Favela uma Floresta e já iniciamos o estudo para nosso fundo de projetos de adaptação e atividades sócio-ambientais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida nesses locais. É necessário que políticas públicas sejam criadas e efetivamente colocadas em prática, principalmente em áreas periféricas. O sol é para todos, mas as consequências da crise climática são mais sentidas nas favelas. 


 

 

Tainá de Paula, é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. É especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e Mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é vereadora licenciada e ocupa o cargo de Secretária de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro.


As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil



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