Uma urbanização para encontro neste caso especifico, pressupõe ter o largo do Gesso, como centro de gravitação da mistura de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
Por Alexandre Lucas – de Brasília
O largo do Gesso (Crato-CE), onde fica localizada sua quadra, funciona como epicentro da comunidade, a partir de seus condicionadores históricos e sociais. O Largo abrigou por anos um depósito de gipsita (Gesso), nas margens da linha férrea, onde eram transportadas nos vagões de trem para serem beneficiadas na capital cearense. O que deu origem ao nome da comunidade. O depósito e a linha férrea são elementos importantes para compreensão dos processos de organização e estratificação socioespacial.Organizações da sociedade
Quando é realizada a somatória de organizações da sociedade civil e do poder público no Território Criativo do Gesso, fica evidente a sua potência a partir da cultura, tendo em vista, o conjunto de iniciativas no campo da educação e da cultura que atuam de forma direta e indireta no Território (escolas, universidade, ONGs, coletivos, grupos da tradição, igrejas, centros espiritas, terreiros, pousadas, hotéis, bibliotecas, espaços de memória, etc.). O Território Criativo do Gesso fortalece a ideia de retirar as linhas divisórias que separam as pessoas e os seus espaços e aponta como caminho de urbanização a reparação histórica, a criação de linhas de encontros entre as gerações, redução de impactos ambientais e reconhecimento da sua potência criativa. Uma urbanização para encontro neste caso especifico, pressupõe ter o largo do Gesso, como centro de gravitação da mistura de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Possibilitar a criação de um espaço com condições envolver as diversas gerações é essencial para combater a estigmatização social e as zonas de conflito. Uma urbanização que contemple a segurança e o bem estar social das crianças, mulheres e idosos é essencial para promover uma lógica que se afaste da dureza dos planejamentos urbanos construído na frieza e na distância da realidade de quem constrói as paisagens sociais e culturais locais. Nesta perspectiva, a linha férrea, é algo que essencialmente deve desaparecer para constituir um novo fluxo de circulação na comunidade que possibilite condições de acessibilidade, iluminação e mobiliários urbanos, o que incluir também abertura de novas vias de acesso. A política urbana do improviso, populista e a ausência do planejamento urbano tem gerado consequências diretas como: alagamentos, redução de ruas, pavimentações inconsistentes e o desenfreado asfaltamento.A urbanização
No quesito asfaltamento é preciso reconhecer que o largo do Gesso recebe um volume significativo de água provindas de diversas ruas asfaltadas das áreas mais altas gerando uma situação temerosa e de dificuldade de trânsito. A urbanização deve considerar a sua área verde, impulsionando um paisagismo que potencialize o Sítio Urbano do Gesso, uma imensa conquista comunitária reconhecida por lei municipal que prevê plantio de árvores frutíferas e plantas medicinais nas margens da linha férrea. A iluminação pública é uma questão primária para promover o encontro e a circulação de pessoas, o largo do Gesso, precisa ter um sol artificial durante a noite, como forma de tornar uma rota segura para população. A comunidade do Gesso precisa se integrar espacialmente ao seu território para não ser uma espacialidade isolada e excluída da cidade como vem se caracterizando ao longo dos anos. Entretanto, qualquer processo de urbanização na comunidade exige escuta, percepção das histórias e das afetividades comunitárias o que pressupõe um planejamento urbano participativo e norteado por uma perspectiva estruturante e civilizatória que se paute na redução dos impactos ambientais e na promoção da qualidade de vida da presente e das futuras gerações. O improviso, o tapa buraco e o ouvido de mercador atrofiam o direito à cidade. Uma outra urbanidade exige soluções para resolver o quebra-cabeça esfacelado por longos anos exclusão socioespacial, logicamente, isso exige ciência e a uma gestão democrática e participativa, o que não acontece com receitas, muito menos do dia para noite.Alexandre Lucas, é pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/Ceará.
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