Complexo do Alemão: 'massacre chamado de operação policial'

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Publicado Sexta, 22 de Julho de 2022 às 08:13, por: CdB

Defensoria Pública vê "indícios de situações de grave violação de direitos" na ação que deixou ao menos 18 mortos no Rio. Moradores e ativistas denunciam violência policial e política de segurança pública "desastrosa".

Por Redação, com DW - do Rio de Janeiro

A operação policial de quinta-feira no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, que deixou ao menos 18 mortos, segundo números da Polícia Militar (PM) fluminense, provocou mais uma vez críticas à violência policial.
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Entre os mortos, está um policial militar de 38 anos, atingido no pescoço, e uma mulher de 50 anos baleada no peito dentro do carro
Segundo a PM, ao menos 400 agentes atuaram na ação, que tinha como objetivo combater o roubo de carros, carga e bancos. Foi a quarta operação policial mais letal da história do Rio, depois das que ocorreram no Jacarezinho em maio de 2021, quando 28 pessoas morreram, e na Vila Cruzeiro, em maio deste ano, que deixou 25 mortos, ambas na gestão do atual governador Cláudio Castro (PL), e de uma operação em 2007, também no Complexo do Alemão, com 19 mortos. Entre os mortos, está um policial militar de 38 anos, atingido no pescoço, e uma mulher de 50 anos baleada no peito dentro do carro onde estava com o namorado. O homem afirmou à imprensa que um policial atirou contra seu carro quando ele parou no sinal de trânsito. A PM disse que os outros 16 mortos seriam suspeitos de crimes. A operação foi deflagrada no início da manhã e durou cerca de 12 horas. Moradores foram acordados pelo barulho de rajadas de tiros e de rasantes de helicópteros da polícia.

"Massacre"

A Defensoria Pública do Rio afirmou, em nota divulgada na noite de quinta-feira, haver "indícios de situações de grave violação de direitos" durante a operação no Complexo do Alemão, "com possibilidade desta ser uma das operações com maior índice de mortos no Rio de Janeiro". Moradores da favela acusaram policiais de atacarem civis e invadirem residências, fazendo batidas policiais e levando objetos pessoais em meio a intenso tiroteio. – É um massacre lá dentro, que a polícia está chamando de operação – disse à agência de notícias AP uma mulher em condição de anonimato, por temer represálias das autoridades. "Eles não estão deixando a gente ajudar (as vítimas)", acrescentou, afirmando ter visto um homem sendo preso por tentar socorrer feridos. Após a operação, moradores foram vistos agrupando pessoas feridas na parte de trás de veículos para levarem ao hospital, enquanto a polícia assistia. Gilberto Santiago Lopes, da Comissão de Direitos Humanos da Associação Nacional da Advocacia Crimina (Anacrim), disse que a polícia se recusava a ajudar. "Tivemos que carregá-los em um carrinho de bebidas e depois pedir a um morador local para levá-los em seu carro ao hospital", ele disse. "(A polícia) não visa prendê-los, eles visam matá-los, então se eles estão feridos, pensam que não merecem ajuda." Os moradores ficaram furiosos e gritaram com a polícia. "Estamos com medo de viver aqui", gritou um morador após a operação. "Onde estamos? Afeganistão? Em uma guerra? No Iraque? Se eles querem uma guerra, mandem-nos para o Iraque."

"Liderança fracassada"

A Anistia Internacional afirmou no Twitter que "o Ministério Público tem o dever constitucional de fazer o controle externo da polícia" e diz ser "inaceitável que ações mal planejadas q violam os direitos humanos de tantas pessoas continuem ocorrendo no Rio de Janeiro sem que nada seja feito pelos orgãos de competência". "QUEM VAI PARAR o governador @ClaudioCastroRJ e sua política de segurança pública desastrosa e violadora de direitos no Rio de Janeiro !?? Basta de tanta brutalidade! A FAVELA QUER VIVER!", afirmou a ONG.
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