Chanceler brasileiro vai à beira de um ataque de nervos frente a Venezuela

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Publicado Quarta, 02 de Dezembro de 2020 às 11:13, por: CdB

A Conferência Ibero-Americana reúne os 22 países da América Latina e da Península Ibérica. O evento, que declarou a necessidade de criação de um fundo emergencial contra a covid-19, é uma atividade prévia à cúpula anual, que será realizada em abril de 2021, em Andorra.

Por Redação, com BdF - de Andorra-a-Velha e Brasília
Durante a reunião extraordinária de ministros da Estados Ibero-Americanos, no início desta semana, o ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo, usou todo o seu tempo no encontro para acusar a Venezuela de ser uma ditadura e rechaçar a presença de representantes do governo de Nicolás Maduro no espaço. Em resposta, o ministro venezuelano Jorge Arreza sugeriu que o ministro brasileiro tomasse um chá, para se acalmar.
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O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, acredita que nazismo é ideologia de esquerda e que a Venezuela é uma ditadura sanguinária
— Queria recomendar ao chanceler do Brasil uma receita. O comandante Fidel Castro estudou muito a moringa, uma planta extraordinária, com propriedades curativas e também tranquilizante. Eu quero recomendar um chá de moringa, com um pouco de valeriana. Já vai ver como se abre o espaço para a tolerância ideológica, para que possamos inclusive debater — disse Arreza. E acrescentou: — Podemos, inclusive, debater eu e o senhor, sozinhos. Eu o desafio. Moringa, nos sentamos, falamos de democracia, direitos humanos, da Amazônia, de mudanças climáticas, de geopolítica.

Guaidó

A Conferência Ibero-Americana reúne os 22 países da América Latina e da Península Ibérica. O evento, que declarou a necessidade de criação de um fundo emergencial contra a covid-19, é uma atividade prévia à cúpula anual, que será realizada em abril de 2021, em Andorra. Em seu discurso, Ernesto Araújo insistiu que a Venezuela vive uma "tragédia múltipla", expressa em uma crise econômica, política, social, humanitária e de valores. Lamentou a ausência de representantes do autoproclamado presidente Juan Guaidó e ainda sugeriu que o governo brasileiro poderia romper com a organização. — A presença do regime madurista nesta sala corrói os pilares fundamentais dessa comunidade, o sentimento de pertencimento e a vontade de estar juntos — declarou Araújo. Assim como em outras ocasiões, o chanceler brasileiro acusou, sem provas, o governo de Nicolás de Maduro de ser cúmplice de estruturas internacionais de narcotráfico e crime organizado.

Mensagem

Como únicas propostas para a Conferência Ibero-Americana indicou a criação de estruturas de combate ao tráfico de drogas e outros tipos de delitos internacionais, a criação de mecanismos de aferição do nível de liberdade e democracia dos países, assim como a emissão de sanções contra países que rompam com o Estado democrático de direito. — Há uma forte expectativa do Brasil que os demais países dessa conferência possam trabalhar conosco pela restauração democracia da Venezuela — acrescentou o ministro do governo Bolsonaro. Arreaza discursou depois de Araújo. Ao final da sua declaração, o chanceler venezuelano enviou uma mensagem ao corpo diplomático brasileiro. — Sei que vocês estão em resistência, que tem vergonha das posições de seu chanceler. Mas fiquem tranquilos. Isso é temporário e, no final, nenhum governo, nenhum chanceler pode derrotar a excelência do que representa o Itamaraty. No final, esses anos serão apenas uma má lembrança e nada mais — declarou.

Intervenção

As declarações do chanceler Ernesto Araújo vão ao encontro do que analistas já apontavam como possíveis estratégias da oposição venezuelana e seus aliados internacionais para atacar o governo bolivariano. As supostas denúncias de crise humanitária generalizada, aliadas à reprodução do discurso de "narcoterrorismo" difundido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seriam as justificativas para ativar o mecanismo Responsabilidade para Proteger (R2P) contra a Venezuela. O compromisso R2P tem três pilares: 1) Responsabilidade de cada Estado de proteger suas populações; 2) Responsabilidade da comunidade internacional de ajudar os Estados a proteger sua nação; 3) Responsabilidade da comunidade internacional em proteger uma população das ações de um Estado. O último pilar seria utilizado como justificativa para uma intervenção armada, na Venezuela. A iniciativa, porém, conta com a divergência da Rússia e da China, países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. No próximo domingo, mais de 20,7 milhões de venezuelanos estão convocados a eleger 277 deputados que irão compor a nova Assembleia Nacional. Juan Guaidó já declinou do processo e convocou uma consulta nacional para o dia 12 de dezembro, a fim de questionar se os venezuelanos querem uma mudança de governo. Apesar de a figura jurídica do referendo revogatório estar prevista na Constituição Venezuelana, a oposição guaidosista se apoia num mecanismo sem qualquer previsão legal.
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