Cerco de agricultores: Paris tem três dias de estoque de alimentos

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Publicado Segunda, 29 de Janeiro de 2024 às 11:52, por: CdB

Trabalhadores do setor agrícola estão revoltados com a concorrência dos produtos importados e as rigorosas normas ambientais europeias, que eles acusam de encarecer a produção, ao mesmo tempo em que sofrem pressão de industriais e varejistas para vender a preços baixos.


Por Redação, com CartaCapital - de  Paris


Os agricultores franceses iniciam a semana com bloqueios a estradas de acesso a Paris, Lyon e Bordeaux. Para evitar o cerco de tratores à capital francesa e caos no trânsito, o governo mobilizou 15 mil policiais e alertou que não permitirá o bloqueio das vias de acesso a aeroportos e à central de abastecimento de Rungis, na região parisiense.




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Os agricultores franceses iniciam a semana com bloqueios a estradas de acesso a Paris, Lyon e Bordeaux

As medidas anunciadas na última sexta pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, entre elas, a manutenção da vantagem fiscal sobre o óleo combustível dos tratores, foi considerada insuficiente. O chefe de governo se reuniu nesta segunda-feira com líderes de sindicatos do setor para avaliar novas medidas, mas os agricultores mantêm a pressão por tempo indeterminado, com um plano de bloquer oito estradas e rodovias de acesso a Paris. A cidade tem apenas três dias de estoque de alimentos para abastecer a população.


O “cerco a Paris”, convocado pela Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França (FNSEA) e pelo sindicato Jovens Agricultores, é manchete na imprensa nesta segunda-feira.


Determinados, o setor alega que continua à espera de medidas concretas para trabalhar e viver melhor. “500 euros por mês, não podemos conviver com isso”, intitula o jornal L’Humanité.


Maior jornal regional da França, o Ouest-France, diz que a revolta iniciada na região de Toulouse, no sudoeste, estende-se a Paris. “A tensão cresce entre os agricultores e o Executivo”, constata o Le Figaro, enquanto o diário econômico Les Echos vê um risco de escalada, uma vez que o primeiro-ministro passou o fim de semana em contato com agricultores, fez uma série de concessões, mas não conseguiu satisfazer a categoria.



Importações de frango do Brasil


O jornal Le Parisien traz a manchete Operação cerco a Paris e mostra que a crise envolvendo os produtores franceses de frango simboliza a revolta atual. Mais de 50% do frango consumido na França é proveniente atualmente de concorrentes europeus e de países de fora da União Europeia, devido à falta de competitividade do produto nacional. “Isto representa 1,5 bilhão de euros de importações por ano”, destaca a reportagem.


Os agricultores consideram essa situação paradoxal, já que os franceses nunca consumiram tanto esse produto: 22,5 kg anuais por habitante. O frango inteiro tradicional já não interessa mais ao consumidor, que prefere o corte do filé em bandeja.


Polônia, Alemanha, Holanda e Bélgica aumentaram substancialmente a produção da ave e ganharam mercado no exterior com esse corte. Além disso, os franceses enfrentam a concorrência do frango proveniente do Brasil e da Tailândia. Em entrevista ao Le Parisien, Yann Nédélec, diretor de uma associação de produtores, alega que o Brasil autoriza o uso de antibióticos para acelerar o crescimento das aves, o que é proibido pelas normas europeias.




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