Foram 36 dias de dilema. Da festa pela conquista do pentacampeonato mundial em Yokohama até hoje. A indecisão de Luiz Felipe Scolari conseguiu paralisar toda a cúpula do futebol brasileiro. Nenhum outro personagem havia conseguido criar tamanho suspense. Nem mesmo Pelé ao resistir à pressão dos militares durante a ditadura e não disputar a Copa do Mundo de 1974. Dissimulado, o treinador desorientou até pessoas muito próximas a ele e muito mais ao presidente Ricardo Teixeira. A decisão já está tomada e será anunciada hoje em entrevista coletiva na nova sede da entidade na Barra da Tijuca. O JT apurou que, para preservar sua família de uma desgastante eliminatória para a Copa de 2004 e ainda sair com a imagem de vencedor, Luiz Felipe Scolari quer se despedir no jogo contra o Paraguai, dia 21 em Fortaleza. Ricardo Teixeira vem mantendo intensa pressão sobre o treinador desde sexta-feira. O dirigente não se conforma com a postura do técnico e está tentando convencê-lo a continuar comandando o Brasil de qualquer maneira. Teixeira quer capitalizar a aprovação popular e a imagem de seriedade que Scolari trouxe para a CBF. E não está medindo esforços para isso. Dos R$ 370 mil mensais que ganhava mensalmente no contrato encerrado após a Copa, o dirigente oferece o maior salário pago no futebol do Brasil: R$ 500 mil por mês. E mais: a entrega do comando de todas as categorias da Seleção Brasileira. Scolari definiria o nome dos treinadores das equipes juvenil e de juniores. O desafio da conquista inédita da medalha olímpica. Teixeira reverteria até o seu desejo de não ver o treinador da Seleção Principal dirigir a Olímpica para tentar escapar do vexame que passou Vanderlei Luxemburgo na Austrália. Se nada disso fizer Luiz Felipe reverter sua decisão, Teixeira tem um último trunfo. E que não vai se fazer de rogado para usar. Quando o Brasil foi eliminado por Honduras da Copa América, a pressão para demitir o treinador foi imensa dentro da CBF. A esmagadora maioria dos diretores tentou convencer o presidente que Scolari deveria sair. De uma maneira inesperada, Teixeira assumiu sozinho a delicada decisão e resolveu mantê-lo no cargo. O dirigente sabe que o treinador acompanhou toda a situação e acredita que chegou a hora de cobrar o apoio. A expressão correta para o plano é chantagem emocional. Mas o emocional de Luiz Felipe está todo com a sua família. Ele conversou, viajou e, principalmente, analisou o futuro com sua mulher Olga. Ela tem uma influência sobre o treinador. Quando diz que a contrariou em qualquer decisão é mero folclore. Os dois formam um casal cúmplice. "Estar em sintonia com a minha família é a prioridade para mim. Isso é fundamental e vem antes de dinheiro, fama, qualquer coisa. Eu trabalho e busco a felicidade da minha família", disse Luiz Felipe ao JT durante a Copa do Mundo já falando sobre o futuro. Ele acompanhou com muita apreensão o sofrimento dos filhos durante os momentos difíceis na Copa América e nas Eliminatórias. Discutiu com torcedores em restaurantes e nos shoppings de Porto Alegre por não ter convocado Romário. E quase foi agredido por populares na saída da sede da CBF também por não ter dado outra chance ao atacante carioca.
Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Abril de 2024
CBF ofereceu 500 mil por mês para Felipão continuar na seleção
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Publicado Segunda, 05 de Agosto de 2002 às 06:53, por: CdB
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