Casal de livreiros, em Resende, derrota líder supremo da IURD

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Publicado Sexta, 03 de Dezembro de 2021 às 14:54, por: CdB

Luciano Gonçalves diz que em nenhum momento citou religião no banner e que as "obras" citadas se referiam à atuação de Edir Macedo em geral. Além disso, segundo o comerciante, não havia discriminação porque as pessoas não eram proibidas de entrar — eram na verdade convidadas a frequentar o local e ter acesso a diferentes pontos de vista.

Por Redação, com BBC Brasil - de Resende, RJ
Líder máximo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o bispo evangélico Edir Macedo perdeu uma ação que havia proposto contra donos de uma livraria em Resende, município no interior do Estado do Rio de Janeiro, por causa de uma placa com uma piada, instalada na porta do estabelecimento.
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No banner, os donos da livraria faziam um convite aos pobres de espírito No banner, os donos da livraria faziam um convite aos pobres de espírito
Na vitrine do ‘sebo’ (livros usados) Gregas e Troianas, em uma discreta rua no bairro Jardim Jalisco, o casal Luciano Gonçalves e Mariângela Ribeiro havia colocado um banner com a intenção de "ser algo divertido". "Se você é racista, machista, homofóbico, se não acha que as 'obras' de Bolsonaro, Malafaia e Edir Macedo envergonham a humanidade... Entre! Esta é uma casa de inteligência e cultura. Nós podemos ajudar você", dizia o cartaz.

Pontos de vista

Ao ter conhecimento do banner, Edir Macedo — dono de um dos maiores grupos de comunicação e líder de uma das maiores igrejas evangélicas do Brasil — entrou com um processo por danos morais contra os donos do comércio local com o argumento de que a placa era "intolerância religiosa". Luciano Gonçalves diz que em nenhum momento citou religião no banner e que as "obras" citadas se referiam à atuação de Edir Macedo em geral. Além disso, segundo o comerciante, não havia discriminação porque as pessoas não eram proibidas de entrar — eram na verdade convidadas a frequentar o local e ter acesso a diferentes pontos de vista. — Era uma crítica à obra, não fazia nenhuma ofensa pessoal, não citava religião — disse Gonçalves à agência britânica de notícias BBC Brasil que vende em seu ‘sebo’ diversos livros religiosos, incluindo de líderes evangélicos.

Pensamento

Na ação movida por Edir Macedo a indenização pedida chegava a R$ 25 mil e a colocação de uma placa "de retratação" com a mesma visibilidade da original. Ambos os pedidos foram negados pela Justiça. Segundo a juíza do caso, se Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e Edir Macedo "notoriamente veiculam em suas exposições para a mídia o que pensam e sentem sobre os temas relacionados no banner", outras pessoas também precisam ter o direito de se manifestar. "O fato de livremente poderem manifestar seu pensamento, suas ideias e crenças permite que os demais membros da sociedade também as manifestem, na mesma proporção que o fazem", diz a magistrada Silvia Regina Portes Criscuolo na sentença, de outubro deste ano.
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Luciano Gonçalves, no entanto, afirmou que estava “muito tranquilo (antes da decisão de primeira instância), porque não há base legal nenhuma para o pedido (do pastor)". — Na realidade o que mais me deixou feliz foi poder avisar a população, nossos amigos e clientes que acompanharam o processo, que torceram pela gente. Está todo mundo feliz, todo mundo comemorando — acrescentou. Se a decisão for mantida ou se Macedo não recorrer, o bispo terá que pagar os custos do processo. — Felizmente não gastamos nada, tivemos vários advogados se oferecendo para nos defender pro-bono (sem custos) — concluiu.
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