Artistas populares ocupam favelas do Complexo do Alemão no Rio

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Publicado Sexta, 22 de Fevereiro de 2008 às 06:54, por: CdB

Sob a mira dos fuzis dos soldados da Força Nacional de Segurança, entrincheirados nos acessos das favelas, os moradores do conjunto do Alemão, na Zona Norte da capital carioca, seguem cruzando as ruas indiferentes ao clima de guerra constante nas comunidades.

Nos últimos dias, o que mudou no cotidiano dessas pessoas é o cochicho nos becos e esquinas sobre o início do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal) e a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para lançamento das obras.

Embora a expectativa de conquistar uma vaga de trabalho seja positiva, percebe-se que a  indiferença é uma arma de sobrevivência. Ainda paira no ar o pesadelo de um possível confronto quando a polícia ocupar a região.

Preocupados com uma investida trágica - ao longo de quatro meses 70 pessoas morreram e cerca de cem ficaram feridas em operações policiais no local -, um "exército" está se preparando para conter as ações violentas que resultem em outras mortes de inocentes.

Os recrutas dessa "tropa" são comandados pelo Grupo Cultural Raízes em Movimento que atua nas 12 comunidades com uma população de aproximadamente 150 mil pessoas, segundo as associações de moradores.

A equipe, que trabalha com atividades culturais e educativas no Alemão desde 2001, quer garantir voz e espaço para continuar com o movimento que já beneficiou cerca de duas mil pessoas em seus seis anos de existência.

Na pequena sede encravada dentro do Alemão, em Ramos, crianças e adolescentes aprendem pintura, tecelagem, artesanato, música, dança, teatro, fotografia, técnicas de grafites, produção de vídeos e elaboração de jornais comunitários.

– Obras, por si só, não mudam as pessoas. O que pode mudar é educação, e cultura, que são os verdadeiros ativos que ficam para as comunidades. A violência deixou as pessoas sem perspectivas. Agora, estamos diante de uma chance de mudar essa realidade, mas é preciso que os jovens,  maiores vítimas e promotores dessa violência, tenham chances de participar desse processo, de valorizar esse projeto como algo transformador. Estamos tentando colaborar, já que o nosso trabalho existe aqui dentro antes dessas promessas do governo, afirma o antropólogo Alan Brum Pinheiro, presidente do Raízes em Movimento.

Para divulgar os trabalhos das equipes, eles criaram o Circulando, evento itinerante dentro das favelas com exposições de grafites, pinturas, fotografias e vídeos com documentários sobre o cotidiano da favela. Em junho do ano passado, a exposição na Avenida Central, via que corta o conjunto de favelas, e as oficinas nas lajes das casas foram canceladas por causa de uma incursão policial. Já são 53 painéis pintados nos muros e fachadas das casas.

– Queremos que as pessoas aprendam um ofício e sintam orgulho do que fazem. Só assim serão capazes de valorizar seus trabalhos e disputar o mercado”, completa Alan.

Um jovem que se destaca na comunidade é David da Silva, 26, coordenador de comunicação do Raízes. Ele faz jornalismo e escreve os textos do material produzido pelo grupo nas páginas da internet, e Mário, estudante de publicidade, responsável pelo site http://www.raizesemmovimento.org.br/

Os outros talentos da comunidade são Tiago Tosh e Beto Era, com suas pinturas que lembram o cotidiano de violência nas favelas e a violação dos direitos humanos em algumas ações arbitrárias da polícia. O próximo Circulando será no dia 29 de março.

Alguns trabalhos da equipe já ganharam destaque fora da favela, como a pintura temática no muro principal de um dos campus da Faculdades Integradas Hélio Alonso, a Facha, em Botafogo. A outra iniciativa do Raízes, é o Motirô, com oficinas de comunicação e meio ambiente, além de promover atividades de esporte e lazer.

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